Aquando o término de um relacionamento a nossa vida aparenta ficar desnorteada. As dúvidas, a culpabilização e as descargas emocionais passam a fazer parte do dia-a-dia. A artista Niia encontrou o seu refúgio em II: La Bella Vita e conta-nos, sem medos nem tabus, os aspetos negativos de amar.

A artista refere que o álbum surgiu após o término de uma relação de seis anos. Uma meia dúzia que já perspetivava a cerimónia matrimonial e a contribuição para a natalidade. No entanto, tudo deu para o torto. Assim, Niia encontrou-se sozinha. Lado a lado com pensamentos obscuros (“There’s moments where I hope [he] dies. I really hope [he] dies”), fez da música a sua terapia. E quit sait não será também para os seus ouvintes?

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“No light” corresponde à introdução do álbum II: La Bella Vita. Com menos de dois minutos, presenteia-nos com um instrumental apaixonante e típico do Jazz. Ao longo da faixa, a artista reforça os possíveis impactos de uma mentira e questiona-se sobre a capacidade curativa da passagem do tempo, “Does it heal or does it steal?”.

Logo à partida, poderíamos ficar de pé atrás. Quantas composições musicais não foram já criadas sobre o amor? Mais, quantas dessas composições não apelam ao tempo curandeiro e se focam no desmoronar de uma relação graças a uma única mentira? No entanto, a voz dolorosa da artista consegue exprimir e provocar tanta angústia, que qualquer similitude com outras obras passa ao lado.

Mais tarde em “Black Dress”, Niia refere que já nem se conhece a si própria. Por isso e muito mais, admite deixar-se levar pelos vícios efémeros da vida – “Do a little drugs / Smoke a little weed / LSD”. Como seria de esperar, estes mesmos vícios aparentam não saciar a sua tristeza, continuando a não se sentir livre.

Apesar da referência à utilização de métodos frequentemente repreendidos, conseguimos subentender um apelo de não utilização dos mesmos. De qualquer das formas, há também uma referência ao facto da artista se encontrar viciada na dor infligida pela desilusão amorosa. Globalmente, aborda o comodismo social, que mesmo que surta incómodo, muitas vezes persiste.

“Whatever You Got” introduz uma versão diferente da artista. A faixa resulta da combinação de Pop com Groove e deixa dúvidas sobre a verdadeira intenção de Niia. Através da lírica catchy não conseguimos perceber se se trata da vontade e concretização esporádica de voltar para o seu ex-namorado ou de encontrar noutro alguém um alívio para a dor. Porém, o ritmo faz o que nem pensemos na letra.

Mais uma vez, a artista surpreende-nos fazendo uma versão modernizada da música “Obsession” de Mariah Carey.  A composição musical procura converter o ataque amoroso transmitido no original numa provocação cómica aos seus inimigos. “So tell me why you so obsessed with me? / You know that you can’t compete / Honey you’re no VIP”. Cumprindo ao que se compromete.

“Sad Boys” retoma o mote do álbum. Conta como o casal se conheceu. “I was lonely when I met you / And I knew you were lonely too”. A premissa desencadeia o desenvolvimento da relação: duas pessoas que tentaram construir um puzzle mesmo com a falta de peças.

Apesar da vontade para continuar – “You always play the sadist / And I’m a masochist for you” -, o relacionamento foi-se destruindo aos poucos e poucos. A tristeza que os aproximou, tornou-se numa tentativa inalcançável de curar e mudar o outro e, consequentemente, no término.

As restantes faixas do álbum continuam a recorrer à história do relacionamento; referem os pensamentos contraditórios de alguém que ama, mas não quer amar; e todas as consequências físicas, psicológicas e, até mesmo, sociais que o fim infligiu.

II:La Bella Vita trata de assuntos próximos contudo, distantes entre si. Através de diferentes versões da própria artista, é-nos apresentado um álbum desnorteado. Contudo, uma desordem aparentemente alinhada. Trata-se de um álbum destinado a tudo e todos, desde os mais aos menos sensíveis.