É final de fevereiro e, em dois meses, Portugal mostrou-se ao mundo como sempre o foi. Despiu-se e mostramos que somos uma nação racista. O caso do jogador de futebol Moussa Marega correu o mundo e nem por isso nos deixou envergonhados.

O que se passou na cidade-berço no jogo entre o FC Porto e o Vitória SC? Aparentemente nada, segundo o presidente da Assembleia-Geral do clube vimaranense. Para José Antunes, não assistimos a um jogador africano a abandonar o campo depois de ter sido vítima de comentários racistas. Aliás, segundo o mesmo, o jogador devia visitar um psiquiatra. Depois deste comentário, sugiro que José Antunes vá a um educador (ou algo do género).

No passado dia 16 de fevereiro, Moussa Marega marcava o 100º golo da sua carreira. Em vez de receber aplausos, recebeu cadeiras e festejou com uma delas. Luís Godinho, um dos árbitros da partida, deu-lhe o amarelo por isso. Nos minutos seguintes, sempre que o jogador do FC Porto tocava na bola, entre assobios, ouviam-se expressões como “preto”, “chimpazé” e “macaco”. Ouviam-se, ainda, sons que imitavam macacos – relata o jornal desportivo O Jogo.

Ensinam-nos nas aulas de Jornalismo que nunca devemos acusar ninguém de um ato sem que alguém o prove. No entanto, Bento Rodrigues dá-me, enquanto jovem estudante de Jornalismo, a maior prova de que as perguntas certas incomodam. Em entrevista a Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o jornalista esmiúça o caso de Marega e relata apenas ao que assistimos: um ato de racismo.

De seguida, as redes sociais explodem, não só com a atitude do jornalista, mas com todo o caso. Uns afirmam que é clubismo e vão buscar outros casos, onde outros jogadores de futebol também foram vítimas de racismo durante jogos. Porém, não é preciso ir buscar exemplos de outros clubes a serem racistas para justificarem o que se passou. Só estão a provar uma coisa: Portugal é um país racista.

Agradeço a Moussa Marega por ter dado voz a quem não a tem – e que não pretendo tirá-la – agradeço-lhe por ter falado por Cláudia Simões e Giovanni Rodrigues, mais dois nomes que demonstram o país racista que temos. Agradeço-lhe por ter ensinado a Portugal que é racista e não o deixa do ser por ter uma estátua de Eusébio. Agradeço-lhe por me ter feito sentir vergonha de ser portuguesa.

Que não só se repreendam os comentários racistas e xenófobos, mas que punam os mesmos. Não é normal alguém como Cristina Ferreira perguntar “porque é que isso do Coronavirus só dá nos chineses?” e também não é normal a resposta do médico que lá estava.

Num país dos três F (Futebol, Fado  e Fátima) que se mudem mentalidades. Que se ganhe vergonha. E, só para deixar tudo mais claro: odeio peras, mas costumo ter sempre na fruteira lá de casa. Posto assim, este argumento já não faz tanto sentido, pois não?