Waves: o conforto de lugares que nos pertencem

Waves é mais uma produção entregue ao público pela companhia A24. O filme nunca chegou às salas portuguesas, porém, não esquece de nos contar a história que, provavelmente, conecta muitos outros jovens.

A longa-metragem é um drama romântico que estreou a 15 de novembro de 2019. Neste filme, acompanhamos uma família afro-americana do sul de Flórida. Mas, devido a um acidente, a narrativa rapidamente se divide em duas e conta as histórias detalhadas dos irmãos, Tyler (Kelvin Harrison) e Emily (Taylor Russell). Se quiséssemos dar ênfase à palavra drama num contexto visual, talvez Waves fosse o filme perfeito para apresentar.

O irmão mais velho, Tyler, vê a sua vida mudar drasticamente quando não consegue lidar emocionalmente com as suas lesões, provocadas pelas artes marciais que pratica. Como uma espécie de âncora que o arrasta, recebe a notícia de que a sua namorada, Alexis (Alexa Demie), está grávida e não aceita o facto de ser pai tão jovem. Vê-se mergulhado numa incógnita e perde o rumo, sem conseguir encontrar um mecanismo para lidar com as suas batalhas interiores. Talvez esse dilema interior tenha sido afunilado pelo seu pai, Ronald (Sterling K. Brown), que sempre foi ao extremo na dureza na educação de filho.

Após um acidente inesperado, a história muda a direção da câmara para Emily (Taylor Russell), irmã mais nova de Tyler. Visto que o evento afeta tanto Emily como o resto da família, todas as personagens navegam em águas turbulentas, à procura de um propósito. E, como seria de esperar, Emily conhece Ryan (David Garelik), com quem explora o terreno do amor. Numa espécie de espaço seguro, o rapaz vem ocupar um vazio que com o tempo se foi acumulando na jovem.

Todas as personagens apresentam uma complexidade palpável. Os atores mantiveram-se fiéis aos seus papéis, no sentido em que procuraram trespassar as suas indecisões, inseguranças e dubiedades. Cada intérprete procurou uma característica específica na respetiva personagem e conseguiu algo singular.

O argumento vence na emoção que carrega. O guião conta com determinados eventos que somente podem ser desvendados ao carregar no play. Procura conhecer os limites que o ser humano psicologicamente desenha para se guiar e, para além disso, cria uma certa empatia com as personagens.

Waves vem de mão dada com uma banda sonora conhecida por muitos, especialmente os mais jovens. Com as vozes de Kendrick Lamar, H.E.R. e Kanye West, pode encontrar-se uma relação de certa forma aconchegante, especialmente para aqueles que são fãs destes artistas.

O trabalho de realização e produção também se aliam ao título. Na azáfama que é o psicológico das personagens, uma praia no sul da Flórida parece ser o único porto seguro. Como um rio que desagua sempre num mar, estes jovens encontram o conforto na areia e no vento silencioso desta praia. E talvez um elemento tão vulgar da natureza como uma praia possa ter para o ser humano um sentimento acrescido.

Waves convida o público a uma encruzilhada de emoções. Na sua inesperada cadeia de eventos, prende o espetador e força a uma reflexão sobre as adversidades da vida que qualquer um pode encontrar: desde a perda à dor do vazio, do erro ao arrependimento. É, essencialmente, uma experiência humana que requer uma compreensão pelo lado mais complexo que todos carregamos.