Foi em 1987 que a banda britânica Depeche Mode deu a conhecer ao mundo o seu sexto álbum de estúdio, Music For The Masses. Três anos antes do estrondoso Violator, de onde saíram alguns dos hits mais incontornáveis do grupo, já Dave Gahan e companhia trabalhavam para construir uma posição de destaque num mundo cada vez mais habituado à música Eletrónica e ao estilo Dance.

Um dos pontos altos da minha quarentena foi, certamente, descobrir Music For The Masses. Um álbum repleto de ritmo, de batidas dançáveis e alegres que correm de braço dado com letras profundas e introspetivas, ao longo das 10 faixas que o compõem. Entre faixas mais lentas, como “Little 15” “I Want You Now” ou “To Have And To Hold” e faixas mais aceleradas, como “Never Let Me Down Again”, “Sacred”  ou “Nothing”, o disco apresenta-se como um misto de estados de espírito, experimentados pelo ouvinte em cada escuta.

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Possivelmente sem saberem, Dave Gahan, Martin L. Gore, Andrew Fletcher e Alan Wilder deram o nome Music For The Masses ao disco que ia, efetivamente, catapultar os quatro rapazes para a ribalta. Posição que veio a ser reforçada, uns anos depois, com o poderoso Violator. Embora Music For The Masses seja, maioritariamente, um disco de música Eletrónica, a verdade é que há vestígios Pop, Rock e Dance por todo o lado. Cada faixa contribui para que o produto final seja um álbum irreverente mas introspetivo, bem-disposto mas profundo, ideal para “bombar” em pistas de dança ou para massajar um ego ferido pelas agruras da vida.

The Things You Said” é, muito provavelmente, a canção que mais gostei de ouvir neste disco. Num instrumental bastante sereno e contido, os sintetizadores servem de background para uma letra sem grandes complexidades, que se debruça sobre o poder das verdadeiras amizades. O verso “They know my weaknesses”, imediatamente seguido por um “I never tried to hide them” de fundo, resume uma canção que não precisa de grandes espalhafatos para ser extremamente bem conseguida.

Logo a seguir surge a tão badalada “Strangelove”. Bem mais mexida que a anterior, fixou-se como single principal do disco e como uma das canções mais famosas dos Depeche Mode. Nela, Dave Gahan versa sobre o amor e os típicos altos e baixos que o caracterizam, como no enérgico refrão “Strangelove, strange highs and strange lows / Strangelove, that’s how my love goes / Strangelove, will you give it to me?

Se há canção capaz de causar movimentos involuntários da cabeça e dos membros, essa chama-se “Behind The Wheel”. Uma entrada que se assemelha ao som de tiros dá o mote para um instrumental absurdamente catchy e dançável.

A dada altura, Dave Gahan e a sua característica voz grave juntam-se à festa para recitar uma letra, que pode ou não ter duplo sentido. Se existe ou não conotação sexual nos versos “You behind the wheel and me the passenger / Drive me, I’m yours to keep / Do what you want, I’m going cheap tonight” não sei. Aliás sei: provavelmente existe. São os Depeche Mode.

O álbum termina com a sombria e aterradora “Pimpf”. Constituindo uma total antítese de todo o disco, esta faixa instrumental é capaz de nos fazer viajar por entre os mais obscuros pensamentos que habitam a nossa mente. O piano inicial ainda deixa no ar a possibilidade de mais 3 minutinhos de dança e abanamento do capacete, mas à medida que o som se intensifica, essa ideia desaparece.

O crescendo do instrumental torna-se ainda mais agressivo com os “OHHHHHH” “EHHHHHHH” que surgem lá ao fundo. Dão-se 25 segundos de silêncio absoluto e a música retorna por momentos, mais calma e retraída, como se o “pesadelo” tivesse terminado.

Music For The Masses é um álbum interessantíssimo, independentemente de haver faixas melhores ou outras não tão incríveis. O Dance, o Pop, o Rock e a Eletrónica vão à liquidificadora e o resultado é um batido surpreendentemente agradável. Eu bebi e gostei imenso.