Inicialmente The Soul Giants e depois disso apenas ainda The Mothers, The Mothers of Invention lançaram We’re Only In It For The Money há 52 anos. O terceiro projeto do grupo que integrava Frank Zappa é composto por 19 faixas que se ouvem num abrir e fechar de olhos.

Are You Hung Up?” é a questão que abre o álbum. Assemelha-se a uma conversa de engate com distorções psicadélicas e sussurros pelo meio. A guitarra brilha simples e limpa no final e deixa-nos antever um álbum completamente experimental com mensagens escondidas – mas não muito.

bbc.co.uk

A onda Hippie surge, no final da década, altamente criticada, e a faixa de abertura do projeto a completar a capa e o título satírico deixam em aberto e explicam de forma clara todo o conceito por trás do LP. “Who Needs The Peace Corps” tem um instrumental alegre e enérgico que contrasta com a letra de cariz crítico aos “phony hippies”.

Concentration Moon” mantem a ironia. Começa num estilo Folk e vai acelerando com a bateria enquanto questiona o famoso “american way of life”. “Mom & Dad” conta a história trágica de quem deixa a casa dos pais. O sarcasmo é constante e refletido em passagens críticas tão incríveis como “Ever take a minute just to show a real emotion / In between the moisture cream & velvet facial lotion? / Ever tell your kids you’re glad that they can think?”.

Thelephone Conversation” é literalmente parte de uma chamada telefónica onde os ânimos se exaltam um pouco. Já “Bow Tie Daddy” é o jingle alegre sobre e para o homem de classe média que se chateia facilmente. Ironicamente, vai ficar a passar em loop pela cabeça de quem o ouve até sabe-se lá quando – o que talvez não seja bom para o bow tie daddy. Duram ambas menos de um minuto e não perdem em nada por isso.

Segue-se “Harry, You’re A Beast” numa continuação de críticas ácidas anunciadas, voltada desta vez para a típica mulher americana dos finais dos anos 60. A ironia em “You paint your head / Your mind is dead / You don’t even know what I just said / That’s you, American womanhood” é acentuada pela forma feliz que é cantado por cima de uma melodia propositadamente obscura com distorções pensadas pelo meio.

What’s The Ugliest Part Of Your Body?” mantem a linha de pensamento da música anterior. A crítica é essencialmente a valorização do físico em relação ao intelectual/emocional. A parte cantada com uma voz suave ajuda, mais uma vez em contraste com as letras agressivamente críticas, a reforçar a ideia da banda.

Absolutely Free” ataca o Flower Power e a liberdade numa melodia impecável. Apesar de acabar de forma um pouco abrupta, consegue arrancar risos de forma moderada durante os três minutos de duração. “Flower Punk” continua a ideia da anterior e resume aquilo que provocava com a primeira faixa. Diria, até, que ouvindo apenas “Flower Punk” se consegue perceber todo o álbum sem ter necessariamente de o ouvir todo. Começa psicadélica e vai-se transformando numa experiência com loops e sobreposições de vozes acabando de forma completamente elétrica e enérgica.

“Hot Poop” é mais ou menos metade sussurro, metade corrida. Surge intrigante e corre fugaz. Como “Thelephone Conversation” e “Bow Tie Daddy”, surge como uma espécie de ponte e simultaneamente pausa entre as faixas de maior dimensão.

Experimental de inicio ao fim, “Nasal Retentive Calliope Music” quebra na quantidade e medida certa o que tem vindo a ser feito até agora. “Let’s Make The Water Turn Black” é Rock simples que critica os valores familiares.

The Idiot Bastard Son” é completa por “Lonely Little Girl”, que se segue. A primeira evolui do Rock para Experimental, a segunda mantem-se suave. Ambas surgem como uma crítica aos jovens americanos, que são vistos como o “elo de ligação” entre a decadência dos valores tradicionais da sociedade da altura e a idiotização do hippie.

Take Your Clothes Off When You Dance” dá vontade de dançar – com roupa ou sem, fica a critério pessoal – enquanto se ouve a crítica ao ideal de um mundo repleto de paz, harmonia e amor. “Mother People” é ligado à anterior por um reprise experimental de “What’s The Ugliest Part Of Your Body” que corre de um ouvido ao outro. O piano e as quebras rítmicas são o destaque durante os quase três minutos da faixa.

The Chrome Plated Megaphone Of Destiny” é um belo instrumental experimental, quase épico, que encerra o álbum. A faixa tem a duração de seis minutos e é a mais longa do álbum, contudo, é de tal forma bem explorada que nos cativa de início a fim.

We’re Only In It For The Money dá continuidade ao experimentalismo de Freak Out! (1966) e Absolutely Free (1967). Cético e crítico relativamente à sociedade e envolto numa sonoridade própria e cativante, o projeto de The Mothers of Invention é digno de ser posto num pequeno (grande) pedestal.