Desde o processo criativo, à lírica e à produção musical, o terceiro álbum de Jhené Aiko é uma das obras mais inovadoras que integra a indústria musical contemporânea. Chilombo resume-se ao encontro harmonioso do amor e da espiritualidade e conta com a colaboração de vários artistas, tais como, H.E.R., John Legend, Miguel, Future e Big Sean.
O título deriva do sobrenome da artista, Jhené Aiko Efuru Chilombo, que recorreu ao Instagram para explicar o significado: “Chi” representa a força da vida; “L” está relacionado com amor; “Om” é o som do universo; “B” simboliza bases e começos e, por fim, “O” representa a totalidade e a perfeição. Revelada a misticidade associada ao nome, importa mencionar que o álbum foi gravado em estilo Freestyle numa viagem ao Havai e inspirado nas paisagens naturais da ilha.
O álbum conta com 20 temas, quatro deles são singles. O primeiro foi lançado ainda em 2019 e cumpre o registo Freestyle com claras referências R&B, ao nível melódico. “Triggered” aborda vários assuntos, mas destacam-se as relações passadas de Aiko. A artista estadunidense afirma, no entanto, que não se trata de um diss track e que o tema a ajudou a lidar com as suas emoções mais fortes.
Também em 2019, a cantora lançou aquele que viria a ser o segundo single de Chilombo, em parceria com Big Sean, com quem mantém uma relação intermitente. Em “None of Your Concern”, ambos refletem acerca das repercussões da sua relação passada numa tentativa de seguir em frente.
Em “PU$$Y Fairy (OTW)”, do ponto de vista lírico, a artista tece imagens de tensão sexual, prazer e atração que condizem com a batida alegre e poderosa. É de destacar a forte presença de ad-libs e harmonias ao longo da canção que permitem conhecer toda a extensão vocal de Aiko. Durante a semana que terminou, a 21 de março de 2020, este terceiro single de Chilombo chegou ao 40º lugar no Billboard Hot 100.
Em “Hapiness Over Anything (H.O.E)”, Miguel e Future juntam-se a Jhené Aiko. Esta colaboração descreve a história de uma mulher mal compreendida e discriminada por assumir livremente e com confiança a sua sexualidade. Aiko incorpora a perspetiva desta mulher enquanto os colaboradores a encorajam e afastam os discursos insultuosos. Esta faixa contém o refrão do tema “Hoe” pertencente ao primeiro álbum da artista e é o quarto e último single de Chilombo.
Numa entrevista para a Apple Music, Aiko revelou não ter tido a intenção de desenvolver um projeto que descrevesse uma história perfeita e linear. Define o desenrolar do álbum como inesperado e surpreendente, tal como a “vida real”.
O título da 16ª canção, “Mourning Doves”, alude a uma espécie de pombas características da América do Norte. Para atrair as fêmeas, os machos desta espécie emitem um som lamurioso e melancólico que a cantora decidiu captar e incluir no início da canção. Vincula-se, assim, um tom romântico, porém triste, enquanto Aiko canta sobre tentar voltar a amar depois de um relacionamento falhado.
A meu ver, a cantora conquista a indústria da música devido ao carácter inovador do seu álbum. Assumindo o fascínio pela espiritualidade, Jhené Aiko recorreu a crystal alchemy sound bowls aquando da gravação em estúdio. A artista de Los Angeles incorporou estes instrumentos usados na meditação numa tentativa de explorar o som enquanto mecanismo de cura.
Em entrevistas de promoção do novo álbum, Aiko afirmou estar provado que “o som é capaz de curar ao nível celular” e, para além disso, segundo a cantora, “as diferentes frequências emitidas pelas sound bowls ressoam com os diferentes chakras do nosso corpo”. Por exemplo, o tema “Speak” está na tonalidade de Mi relacionada com o terceiro chakra que canaliza poder pessoal. Nesta faixa, a cantora de 31 anos canta sobre a necessidade de se libertar do domínio masculino e de se defender enquanto mulher.
Já a 13ª faixa, “LOVE”, está na tonalidade de Fá associada ao chakra do coração. A música é bastante positiva e descreve a explosão de emoções vivenciadas quando nos encontramos rodeados de amor. No Twitter, Jhené afirmou que este é o seu tema favorito.
Chilombo, de Jhené Aiko fica assim marcado como uma obra musical que, para além de ajudar a artista a expressar sentimentos, proporciona aos ouvintes uma experiência sensorial única. Esta poderá ser levada a palco em maio deste ano, na digressão intitulada Magic Hour (da qual farão parte Queen Naija e Ann Marie). A artista pretende replicar o ambiente vivido nas sessões de gravação, fazendo-se acompanhar dos seus instrumentos meditativos.
Artista: Jhené Aiko
Álbum: Chilombo
Editora: Def Jam Recordings & Universal Music Group
Data de lançamento: 6 de março de 2020