O único Conserto necessário é aprender a valorizar quem exibe no palco o mais puro gesto de representar sem uma câmara à frente.
A peça de teatro “Conserto Para Dois”, escrita por Anna Toledo e com músicas de Thiago Gimenes, realizou-se esta quinta-feira à noite, 5 de março. O palco do Theatro Circo foi pisado pelos brasileiros Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello que, com as regalias de um sotaque tão harmonioso, comoveram a plateia bracarense.
A história da peça é cativante, não fosse o amor isso mesmo. Lourdes Mercedes, uma famosa atriz, e Roberto Rinaldi, um famoso escritor, embarcam num cruzeiro de luxo, em busca de paz e sossego. De paixão antiga e com um mal-entendido pelo meio, ambos procuram tranquilidade após a escandalosa separação. O que não sabem é que estão na mesma viagem.
De smoking, o pianista entrou e foi quem deu as boas-vindas ao público. Estando confinado a um canto escondido e minúsculo, teve a presença bem marcada ao longo de toda a peça, falando, cantando e tocando.
Um cruzeiro de luxo. É isso que se vê quando a cortina sobe. Tudo começou de uma forma fascinante, com dois bailarinos, amarrados a 4 bonecos, a sapatear.
O mar, costumam dizer, tem o poder de acalmar. Todavia, os ânimos estiveram, quase sempre, exaltados. Ciúme, mentira, romance, traição, conceitos foram o motor para o desenrolar da aventura.
O tempo escasseou em momentos deslumbrantes. A aparição de Lourdes pela primeira vez reivindicou o poder da figura feminina. Repleta de brilhantes e de “pernas ao léu”, desceu até à plateia, onde cumprimentou as pessoas. Outro episódio memorável foi quando recuamos no tempo e conhecemos o passado do casal. Uma cama ao centro foi a paisagem escolhida para desconstruir tabus, ao falarem de sexo abertamente e à vista.
O que faz do teatro tão genuíno é a capacidade de se construir uma narrativa na hora. Os atores cantavam, dançavam, subiam escadas. No fundo, caprichavam. Alguns dos figurinos faziam lembrar a época do Titanic, não fosse a peça passar-se também num cruzeiro. Outros eram exuberantes demais que não pareciam datar época alguma.
Com todas as características reunidas, as duas horas ficaram irresistíveis: a transição dos cenários, a música e as cores. E, acima de tudo, a paixão dos atores.