Há histórias verídicas que merecem ser transformadas em filmes. O Caso de Richard Jewell, realizado por Clint Eastwood, é uma delas e dá-nos uma “chapada de luva branca” ao mostrar que há mais oprimidos no mundo do que aquilo que pensamos. Estreou a 2 de janeiro e traz ao mundo cinematográfico uma história de superação.

Em 1996, durante os Jogos Olímpicos de Verão em Atlanta, Richard Jewell, um mero segurança, encontrou uma bomba e fez com que o Centennial Olympic Park fosse evacuado. Este homem era um zé-ninguém: gordo, solteiro e vivia com a mãe. A sua grande paixão era a lei e a ordem e ambicionava chegar mais alto e ser polícia. Carregava, inconsciente e falsamente, o perfil ideal de um bombista. De herói passou rapidamente a vilão.

O Caso de Richard Jewell

A verdade é que não havia provas sequer para questionar a irrefutabilidade das mesmas. Eu admito que ele era presunçoso, chato e excessivamente dedicado, mas isto eram traços de alguém com objetivos de vida, não de um criminoso. Foi humilhado, esmagado, maltratado e desacreditado pelo FBI e pelos media. Um ressalvo apenas: informar não implica nada do que ali se fez.

As duas horas não são maçadoras, bem pelo contrário: são motivadoras. A sequência é simples, sem saltos temporais, e os planos são perfeitamente adequados a cada momento. Posso realçar o movimento um pouco agitado da câmara após a explosão, que nos faz acompanhar tudo: o sangue, o chão e a reação das pessoas. Os grandes planos são predominantes, não fosse este filme especialmente emotivo, como quando vemos a tristeza e aflição da mãe ao descobrir que o filho é suspeito, ou o nervosismo de Richard a dizer a célebre frase “Há uma bomba no Centennial Olympic Park. Vocês têm 30 minutos”.

O elenco é incrível. Olivia Wilde, no papel Kathy Scruggs, representa a sede de notícias, a frieza e a arrogância da jornalista de forma talentosa. Pelo menos, andava sempre bem vestida, em figurinos beges, verdes e brancos- presunçosa em todos os sentidos.

O Caso de Richard Jewell

Watson Bryant (Sam Rockwell), o advogado, foi fantástico por ter acreditado sempre na inocência de Jewell. Atrevido e atiçado, porém incansável. Apaixonamo-nos por ele. E não nos esqueçamos do protagonista: o ator Paul Walter Hauser, que transformou a inércia da sua personagem num apelo à nossa piedade. Ao procurar Richard Jewell no Google, reparamos nas semelhanças entre ambos, parecem ter sido separados à nascença.

Ainda muito se pode dizer sobre O Caso de Richard Jewell. Contudo, prefiro repetir o que disse no início: há histórias verídicas que merecem ser transformadas em filmes. E repito, dando uso ao cliché, porque é importante que estas histórias não sejam esquecidas: “a verdade vem sempre ao de cima”.A longa-metragem faz-nos ter uma longa reflexão sobre o verdadeiro significado e o papel da justiça, pois inocentes são sempre inocentes até prova em contrário. Uma democracia só o é se não nos esquecermos de reivindicar que fazemos parte dela.