Rosalvo Almeida, chefe de serviço hospitalar, neurologista e neurofisiologista clínico aposentado, ex-presidente da Comissão de Ética do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e cronista do Público, dá a sua opinião ao ComUM sobre o impacto social da COVID-19.

O neurologista aposentado, como se apresenta no Público, refere que a COVID-19 se trata de um acrónimo, “palavra composta por letras que estão nas extremidades das palavras componentes: Co de corona, vi de vírus e d de disease.” Como tantos outros profissionais, não deixa de referir que os sintomas são semelhantes aos de uma gripe – febre, tosse, dores musculares e dificuldades respiratórias.

Comprova que, atualmente, não há tratamento específico, referindo que existem apenas tentativas de “controlar os sintomas, combater as dores e a febre (analgésicos e antipiréticos) e facultar ajuda mecânica à falta de ar. Esperar que o organismo crie resistências, imunidade”. Explica, também, que “em alguns casos, usam-se fármacos antivirais, mas não há certeza de que resultem e são agressivos.”

Rosalvo Almeida refere ainda que a “maioria das pessoas infetadas nem chega a ter grandes sintomas” e que se pensa “que a maioria das pessoas infetadas recupera totalmente a sua saúde”. No entanto, enfatiza as consequências na economia e na vida geral das populações, enfatizando que este não será o mote para uma nova crise, essa “crise económica já começou.”

De qualquer das formas, acredita que Portugal está e estará medicamente preparado para enfrentar a pandemia, pois confia “que as medidas adotadas e a adotar são as adequadas”. Contudo, o neurologista aposentado afirma que se “sabe de algumas medidas que podem ficar em espera para serem mais tarde adotadas”, não havendo “vantagem em as divulgar antes, pois podem nem vir a ser precisas.”

Aproveita para referir que “as epidemias (doenças que se propagam por contágio nas populações e que, quando atingem múltiplos países, se consideram pandemias) são relativamente raras e os serviços de Saúde têm conhecimentos suficientes (baseados na ciência) para as combater. A resposta dos serviços de Saúde Pública vai sendo adaptada à evolução.”

Quanto às obrigações éticas do Sistema Nacional de Saúde (SNS), Rosalvo Almeida explica ser necessário “falar a verdade com conta, peso e medida”, o que acredita estar a ser feito. No entanto, considera também ser um processo difícil, uma vez que “existem tantos boatos que é difícil desmenti-los todos.”

Dois dos boatos que circulam nas redes sociais são a falta de equipamento médico e a necessidade de escolha de quem vive e morre dentro dos hospitais. O ex-presidente da Comissão de Ética do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto afirma que até “podemos dizer, mesmo fora de uma epidemia assustadora como esta, que nunca há equipamentos suficientes para situações excecionais”. Explica, então, que “a questão ética de decidir quem deve ter acesso a equipamentos escassos é das mais difíceis. Contudo, a resposta habitual é criar critérios estabelecidos por entidades credíveis e independentes, previamente publicitados e sensatos”.

De qualquer das formas, reconhece que “sempre haverá situações em que os médicos que decidem se confrontam com dúvidas éticas sobre quem hão de ligar primeiro ao último ventilador do serviço”, considerando que este é um dos motivos pelo qual “o exercício desta profissão é difícil”. “No final de contas, o que prevalece é a consciência ética de cada um, apoiada por decisões consensualizadas na equipa, ouvindo a opinião dos mais experientes”, afirma Rosalvo Almeida.

Muitos desses boatos são espalhados pelos meios de comunicação social, dos quais a COVID-19 passou a ser o tema central. Rosalvo Almeida brinca com os seus papéis para com a população: “os meios de comunicação social são um bem necessário, exceto quando são um mal e quando são desnecessários!”

O neurologista aposentado considera a Linha SNS24 “extremamente útil, conquanto não haja excessos na sua utilização”. Afirma ser “muito difícil convencer as pessoas iletradas (e algumas letradas) a não irem à urgência sem necessidade. Do mesmo modo, é difícil convencer as pessoas a não recorrerem à Linha SNS24 só para fazerem perguntas que têm resposta noutros meios”.

Rosalvo Almeida acredita que outras medidas, como a aprovação de contratação de médicos aposentados por exemplo, são essenciais. Quanto à ajuda dos estudantes de Medicina, de norte a sul do país, quer seja através do reforço da Linha SNS24, quer através de uma participação ativa nos hospitais, crê que “pode ser uma boa ideia”.

Admite não saber se as pessoas sobre ou subvalorizam a COVID-19. Contudo, propõe uma “bofetada nos alarmistas”. Além disso, deixa o apelo, “Keep Calm and Carry On – como dizia um cartaz inglês quando caíam bombas sobre Londres na II Guerra Mundial.”