The Gentlemen – Senhores do Crime estreou a 27 de fevereiro em Portugal. Guy Ritchie traz uma nova comédia de ação no estilo a que já nos habituou e do qual não parece ter evoluído muito. Com um elenco repleto de galãs e um humor no limiar do ofensivo (e, por vezes, ultrapassando-o), é divertido, ainda que não transmita qualquer tipo de mensagem relevante.

Mickey Pearson (Matthew McConaughey) é um intruso americano e traficante de canábis que quer sair do jogo. Na meia-idade e com um montante confortável na conta bancária, espera liquidar o seu império agrícola, que inclui o bilionário judeu-americano Matthew Berger (Jeremy Strong) e o mafioso chinês “DryEye” (Henry Golding) como compradores mais interessados.

The Gentleman - Senhores do Crime

Conhecemos os planos de Mickey através de um argumento escrito pelo investigador privado desprezível e aspirante a argumentista, Fletcher (Hugh Grant), baseado nos eventos que vemos acontecer intercalados com a narração. Isto é revelado de maneira elaborada ao braço direito do protagonista, Ray (Charlie Hunnam). O guião é, obviamente, uma chantagem, com a qual Fletcher espera explorar Mickey.

A ação é uma constante e não há momentos monótonos. É agradável, não propriamente pela cinematografia, mas mais pelo vestuário. Há um claro cuidado com o detalhe dos figurinos, talvez para mostrar a ostentação dos poderosos na narrativa, ou para captar dos espectadores. A história passa-se em Londres, mas esta não é assim tão reconhecível. Por se tratarem de negócios ilícitos, a paisagem que temos é mais do submundo da capital britânica do que propriamente de pontos turísticos.

Matthew McConaughey é o protagonista de The Gentlemen – Senhores do Crime. Porém, o estrelato é roubado por Hugh Grant e Charlie Hunnam nas cenas de picardia entre ambos, enquanto Fletcher narra a ação da história a Ray. Grant dá uma excentricidade à sua personagem que contracena na perfeição com a serenidade e classe da personagem de Hunnam. Ambos nos envolvem na narrativa, tanto pelo entusiasmo e mania das conspirações de um, como pela racionalidade e comentários sarcásticos de outro.

The Gentleman - Senhores do Crime

O humor acompanha a maioria das cenas, por vezes um pouco ao lado, outras vezes inesperado, mas não deixa de oferecer gargalhadas e completar a ação. No entanto, é também na comédia que reside um dos problemas mais apontados à obra. Guy Ritchie aparenta não ter superado o tipo de humor no limite do racismo que parecia mais aceitável no início dos anos 2000.

Outro problema apontado é a falta de personagens femininas. A única mulher que nos acompanha todo o filme é a esposa de Mickey, Rosalind (Michelle Dockery). E, ainda que seja uma personagem independente, com o seu negócio, repleto de funcionárias femininas, com caráter próprio e que acaba por tornar o marido mais interessante, é uma em seis personagens masculinas principais.

Depois de Aladdin, Guy Ritchie desenvolve um filme que parece ser mais a sua “praia”, mas onde poderia ter aproveitado para mostrar o seu crescimento desde Snatch (2000). The Gentlemen – Senhores do Crime resume-se a aproximadamente duas horas de entretenimento, com pequenos plot twists que nos mantêm agarrados ao ecrã. O modo como a história é apresentada é inteligente, na medida em que torna o filme mais interessante e original em relação a outros do mesmo género. Ainda que subtilmente problemático e com algumas cenas explicitamente violentas, é uma boa opção para se distraírem neste período de isolamento social.