Abel Tesfaye, mais conhecido como The Weeknd, marcou o dia 20 de março com o lançamento do seu quarto álbum de estúdio. After Hours é a história de um artista que procura uma saída do escuro mas também das luzes da fama, dividindo-se entre aquilo que é e o que quer ser.

The Weeknd fala de temas complicados da sua história de uma forma genial, apresentando-nos músicas excecionais onde o estilo dos anos 80 está muito presente. O projeto começa com a atmosfera carregada de “Alone Again”.

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O cantor canadiano pede para lhe tirarem a máscara, como se estivesse a viver na pele de outra pessoa. Dirige-se a uma rapariga que está com ele, a quem pede que fique durante a noite, pois não consegue estar sozinho novamente. Ter escolhido esta música para abrir sugere de imediato que neste álbum vai falar sobre o lado negativo da fama.

Com “Too Late” o ritmo acelera, dando a sensação de que estamos a acordar. Mesmo assim, os apontamentos sintéticos da faixa anterior continuam. Estando sempre debaixo dos holofotes e das perguntas dos jornalistas, Abel mostra querer libertar-se disso. Afirma até que vive num inferno disfarçado por luzes que o cegam. Surge novamente acompanhado por uma rapariga, a quem o artista parece sempre pedir socorro.

Fãs e outros críticos de música suspeitam que “Hardest To Love” se dirige a Bella Hadid, a sua atual ex-namorada. Os dois têm já um historial de romperem e se reconciliarem de forma consecutiva. Nesta faixa, o cantor canadiano confessa que se considera o mais difícil de amar na relação por causa do seu estilo de vida e dos seus problemas. Contudo, transparece a necessidade de estar com ela.

“Scared To Live” rompe com o estilo de música que temos ouvido até agora. Dá continuidade à faixa anterior por continuar a dirigir-se a Bella Hadid. Nesta balada, pede-lhe para não ter medo de viver e de o amar de novo.

Em “Snowchild”, The Weeknd faz bastantes referências a outros artistas e também a situações do passado. Foca-se mais no consumo de drogas e naquilo que mudou na sua vida desde que ficou famoso. A paixão pela música fê-lo desistir da escola, passando a consumir muito cedo. A produção musical quase que passa para segundo plano.

O principal propósito desta faixa é o reconhecer, por parte de Abel, dos seus erros e a sorte que teve quando se tornou famoso. A palavra “snow” pode ser vista com um duplo sentido: a neve da cidade natal, Toronto; e a cocaína, uma droga que o artista terá consumido, que é chamada de “neve” pela cor branca.

Ao longo de After Hours, The Weeknd menciona muitas vezes Los Angeles como uma cidade do mal. “Escape from LA” conta que, apesar de sempre querer ir viver para lá, o cantor deparou-se com um estilo de vida pouco saudável a todos os níveis. Chega ainda a confessar que LA vai ser o seu fim, se não sair dali. Para acompanhar a letra, a música é também melancólica.

“Heartless” estabelece um ponto de rutura na história do álbum. No single principal, o artista foge de LA para Las Vegas, tal como vemos no videoclipe. Torna-se uma pessoa fria e gaba-se do dinheiro e do seu estilo de vida, como se quisesse provocar alguém. É uma das músicas mais bem-sucedidas do conjunto, sendo o quarto single a chegar ao primeiro lugar do Hot 100 da Billboard. Algo que pode ser explicado pela qualidade de produção e peculiaridade do ritmo.

A onda dos anos 80 atinge-nos com “Blinding Lights”, o segundo single do projeto. Encontra-se sozinho, provavelmente na madrugada, desejando o toque daquela mulher que o acalma. As luzes que menciona podem ser as luzes da fama, que não o deixam apreciar outras coisas da vida. É uma das melhores músicas do conjunto, graças ao toque especial de Eletropop dos anos 80.

Continuando na onda de Disco, The Weeknd apresenta-nos a balada “Save Your Tears”, escrita novamente para Bella Hadid. Conta uma situação em que os dois não estavam juntos e a modelo estava numa discoteca onde Abel chegou mais tarde. Hadid saiu de imediato, não mostrou nenhuma angústia, nem uma lágrima chorou. Com isto, o cantor diz “guarda as tuas lágrimas para outro dia”. Contudo, na segunda parte da música já admite que a magoou. Portanto pode dizer-se que não se acha suficiente para alguém chorar por ele.

O terceiro e último single que dá nome ao álbum é “After Hours”. Fala sobre uma relação passada que acabou num desgosto muito grande e serve como um pedido de desculpas. Abel mostra um grande arrependimento pelas mágoas que lhe causou. É um pouco sombria e apresenta vocais alterados que mostram a angústia que sente.

A última faixa funciona como uma rendição. Em “Until I Bleed Out”, The Weeknd mostra o desejo de se libertar de tudo o que lhe faz mal, nomeadamente as drogas. A frase “até eu ficar sem sangue” remete para toda uma estética do projeto em que o artista aparece muitas vezes a sangrento. Com esta analogia quer dizer que sangrar pode ser a única forma de se redimir.

After Hours contém faixas discrepantes. “Faith”, “In Your Eyes” e “Repeat After Me” são músicas um pouco repetitivas a nível de temas e batidas. Analisadas como um conjunto, contribuem para o contar da história. Mas quando analisadas sozinhas, não se destacam tanto como as outras.

Pode dizer-se que este álbum retrata uma fase mais negra da vida de Abel Tesfaye. O conjunto das 14 faixas conta a história de alguém que procura refúgio e libertação, e acaba por se perder novamente. Na minha visão, After Hours é aquilo que se passa por detrás da fama e na solidão, que se transforma numa escuridão difícil de combater rodeado de todas as luzes. Contém faixas geniais na sua produção e algumas que se repetem, mas The Weeknd conseguiu contar esta história como só ele conseguiria.