Baseada na série israelita Charlie Golf One (2016), 68 Whiskey, de Roberto Benabib, presenteia-nos com uma miscelânea surpreendentemente coesa. A premissa é simples: um grupo de médicos militares são destacados para o perigoso mundo do Afeganistão. Contudo, o desenvolvimento é questionável.

Antes de analisar propriamente a série, acho pertinente explicar o que simboliza o termo “68 Whiskey” no exército. De acordo com variadíssimas fontes, o conceito representa um tipo específico de médicos militares que têm como objetivo intervir em ferimentos de campo, fornecendo tratamentos primários.

68 Whiskey

Agora, tudo parece fazer mais sentido. Por mais que nos apercebamos do trabalho fulcral do grupo de médicos no tratamento imediato de feridos fora de base, o passar a pasta para outros profissionais de saúde deixavam-me com o nariz torcido. No entanto, também era um pormenor que rapidamente se tornava insignificante, graças ao bombardeamento de piadas e situações cómicas.

Por se tratar precisamente de uma série que envolve militares e que gira em torno de piadas (desde as mais rebuscadas às mais imediatas), 68 Whiskey é considerada uma série de comédia. No entanto, acho que podemos encontrar um pouco de todos os géneros cinematográficos na obra. Cooper Roback, o protagonista, aventura-se num amor proibido – romance. Mekhi Davis tornou-se militar e está disposto a fazer de tudo para ganhar dinheiro para os tratamentos médicos da mãe – digamos que um drama dissimulado. Por sua vez, a ação encontra-se em cada canto dos episódios, através de carros a explodir e tiros pelo ar. A ficção resume-se à capacidade de transpor uma realidade tão penosa para algo tão cómico.

68 Whiskey

Já a comédia, baseia-se maioritariamente na relação entre Roback e Davis: dois homens adultos que, por vezes, parecem autênticas crianças. A salvação das criaturas é a terceira e última personagem semi-principal, a sargento Rosa Alvarez. Esta não deixa de ser uma personagem com humor. No entanto, bastante mais pesado e irónico.

De qualquer das formas, o valor cómico da produção da Paramount Network não é o único importante de reconhecer. Mesmo quem não gosta deste género de séries se apaixona, em apenas um episódio, pela experiência cinematográfica que a mesma proporciona. De um momento para o outro, deixamos o conforto da nossa casa e passamos a estar no Afeganistão. Contudo, e por incrível que pareça, 68 Whiskey não foi gravada no Afeganistão. Na verdade, todas as gravações decorrem em Santa Clarita, Califórnia, onde se construiu uma base de operação e um simulacro de uma vila do Afeganistão, completos.

A atenção ao detalhe decorativo é inquestionável. Desde a base à vila, desde o mimetismo das roupas tradicionais militares e da região à simulação perfeita de estilos de vida, vê-se um conjunto imenso de preocupações que compensaram a longo prazo.

68 Whiskey

As experiências mais marcantes da série são as viagens de helicóptero. Além de termos o privilégio de observar paisagens lindíssimas, surge em nós uma adrenalina e vontade de experimentar. Ademais, também nos questionamos sobre a verdadeira segurança de tal meio de transporte, mas isso fica para depois.

68 Whiskey encontra-se ainda recheado com a participação de atores de qualidade. Destacam-se nomes como Sam Keeley (Cooper Roback), Jeremy Tardy (Mekhi Davis), Gage Golightly (Grace Durkin), Cristina Rodlo ( Rosa Alvarez) e Nicholas Coombe (Anthony Petrocelli), entre outros.

Para quem não a veja com uma mente aberta, 68 Whiskey pode ser entendida como uma ofensa ao serviço militar. No entanto, se prestarmos verdadeira atenção, é através dela que conseguimos ter uma visão mais aprofundada da vida nesse mundo. Para além disso, temos ainda a oportunidade de nos identificarmos com, pelo menos, uma personagem e soltar mil gargalhadas.