A banda norte-americana Evanescence escolheu o ano de 2003 para elevar a fasquia dos EP’s e apostar no primeiro álbum de estúdio. Com uma forte essência de Metal Gótico, meio emo, Fallen retrata a vida, a morte e a pior das dores: a que não se vê.

O disco de estreia revelou-se uma autêntica raspadinha com prémio para o quarteto, que passou a constar nos Discman de milhões de adolescentes pelo mundo fora. A celebrização da voz feminina num contexto “Metal” foi, talvez, um dos fatores que contribuíram para a explosão de Fallen. Ao versar sobre as incongruências mais profundas da alma humana, este álbum permite uma viagem mental muito intensa e instrospetiva.

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Se me pedissem para descrever Fallen as primeiras palavras que me viriam à cabeça seriam, com certeza, “pesado”, “depressivo” e “obscuro”. Ao longo de 11 faixas, o ouvinte é convidado a viajar por entre os pensamentos mais sombrios e as ideias mais malucas que o cérebro é capaz de criar. Esta viagem, com assinatura Evanescence, é conduzida por Amy Lee que dá voz a poemas de elevada carga autobiográfica e emocional.

Going Under” é a minha favorita e abre o disco sem cerimónia. Com um início intrigante, a canção prende-nos e conduz-nos numa reflexão sobre uma relação conturbada e a ânsia da libertação, da perspetiva da vocalista. Em “Screaming, deceiving and bleeding for you / And you still won’t hear me”, Amy Lee aponta os sacrifícios que fez pela pessoa amada, sem a reciprocidade desejada. No refrão, traça-se o objetivo de Lee, em “I’m falling forever / I’ve got to break through”.

Em “Bring Me To Life” e “My Immortal” encontramos os singles que determinaram verdadeiramente o sucesso comercial de Fallen. Na primeira, o refrão “Wake me up inside / Wake me up and save me / Call my name and save me from the dark” tornou-se um verdadeiro ícone. Já na segunda, foi o piano, a acompanhar uma aparente dedicatória para alguém que partiu, a dar o toque marcante à canção.

Em “Imaginary”, cuja sonoridade do início dá continuidade ao final de “Tourniquet”, somos convidados a fechar os olhos e a imaginar-nos num mundo fora daqui. Os versos “I lie inside myself for hours / And watch my purple sky fly over me” retratam na perfeição a necessidade de, por vezes, nos alhearmos um pouco da realidade e de criarmos o nosso próprio paraíso imaginário.

Em “Hello” atinge-se o ponto máximo de mau-estar em todo o disco. Em homenagem à irmã mais nova, falecida com apenas 3 anos de idade, Amy Lee faz-se apenas acompanhar do piano para partilhar connosco a dor de perder um ente querido, de forma tão precoce.

Em versos como “Has no one told you she’s not breathing? / Hello, I’m your mind giving you someone to talk to / Hello”, percebemos o impacto psicológico que aquele evento causou em Amy Lee. Ao contrário das restantes faixas do disco, “Hello” não conta com o crescendo épico das guitarras e da bateria, o que é bastante compreensível, dadas as circunstâncias.

Fallen é um bom disco pela sua polivalência. Dependendo do estado de espirito em que nos encontramos, podemos absorver a energia dos instrumentais mais pesados ou então enveredar por entre a mensagem sóbria e negra das letras, e talvez chorar um bocadinho.