Childish Gambino regressou às bocas do mundo com um álbum surpresa cujo som nos remete para o calor do verão e para as longas caminhadas na praia. 3.15.20 são os números com que Gambino intitula este álbum, deixando a curiosidade pairar sobre a sua simbologia.

Sendo este o sexto álbum, o artista procurou entregar em doze faixas aquilo que vinha a trabalhar nos últimos quatro anos. Childish Gambino não é o tipo de artista que desilude, nem mesmo quando lança uns singles solitários. A questão permanece no facto do autor de Redbone e 3005 responder às expectativas que a sua alta fasquia originou.

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No que diz respeito à linha de som a seguir, o artista explorou ao máximo a produção a computador. Aqui é incluído os tons, o som e até mesmo a distorção das vozes. Vemos isso em praticamente todas as músicas que compõem 3.15.20. Destas destacam-se “Algorythm”, “19.10” e “39.28”. Contudo, esta distorção na voz não pode ser comparada ao que vemos atualmente na indústria musical com o autotune.

Childish Gambino não se limitou a dar de bandeja as alterações da sua voz às músicas, pois isso  seria apenas adicionar algo gratuitamente. Nelas criou e atribuiu um significado à mensagem que, através das letras, tentava entregar.

Childish Gambino no estilo único procura incorporar diferentes técnicas vocais do Rap e do R&B. Exemplo é “12.38” onde o artista navega as suas cordas vocais nos dois estilos, dando ao R&B mais tonalidade enquanto no Rap assume uma voz quase narrativa. Donald Glover sempre foi conhecido pela sua habilidade de juntar o melhor dos dois mundos num só.

As letras das doze faixas de 3.15.20 acabam sempre por encontrar um ponto em comum que as conecta. “Time”, que conta com o contributo de Ariana Grande, expressa a luta de ambos os artistas em encontrarem um significado das suas presenças neste mundo.

Conteúdo parecido pode ser encontrado na faixa “42.26”, mais conhecida por “Feels Like Summer” quando, em 2018, Childish Gambino a lançou em forma de single. Nesta música sentimos a frustração de Donald Glover na sua incessante procura por uma explicação do porquê de certos eventos acontecerem.

Uma adição interessante ao álbum é a faixa “47.48”. Um som que imediatamente me remete para uma tentativa de assemelhar a música aos sons hispânicos. Adicionando a isto surge a letra que contrasta um pouco com o som de batidas leves e reconfortantes.

Nos versos, Childish Gambino acompanha a batida e tenta demonstrar às duas crianças para quem canta que a violência um dia acabará. Mais para o final da faixa, assistimos a uma espécie de diálogo acompanhado do som da música no fundo. Aqui descobrimos que o artista fala com o que aparentam ser os seus filhos.

3.15.20 contém faixas que expelem amor, frustrações e dúvidas. Mergulhado numa divergência de sons, este álbum conduz as nossas mentes para o calor do verão e para aquelas longas caminhadas na praia.

Não só pelo conteúdo das mensagens veiculadas nos versos de cada faixa, mas também pelos tons e sons que Childish Gambino escolheu. Desde o Funk até ao R&B, Donald Glover surpreendeu com mais um projeto que o caracteriza enquanto tripulante da indústria musical.

Mas não como um tripulante qualquer. Distingue-se pelas escolhas arrojadas e corajosas nos sons a editar. E em tempos de quarentena, um álbum que nos faça sair do sofá para dançar ou para mentalmente viajar até à praia, é sempre bem-vindo.