A jovem cantora Cláudia Pascoal viu o álbum estrear a 27 de março. O projeto ! é produto de algumas colaborações com outros artistas portugueses. O resultado foram 12 músicas que representam a personalidade da portuguesa, nas quais podemos encontrar várias semelhanças com as nossas vidas.

Começa de forma interessante com “PPPFFFRR”. O próprio nome parece um pouco aleatório e o que se passa é uma conversa entre Cláudia Pascoal e Nuno Markl. O comediante lamenta-se que os amigos músicos dele não o convidem para participar em músicas. Com isto, a cantora convida-o a entrar e passamos de imediato para a segunda faixa “Mais Fica P’ra Mim”.

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“Mais Fica P’ra Mim” é como um poema sobre amor próprio. A artista descreve-se como alguém humano e que vive livremente. Contudo dirige-se a alguém, possivelmente um ex-parceiro que não a soube amar. Então o dizer “mais fica para mim” é como se estivesse a rever uma parte dela que deu a esta pessoa. Apesar deste tema mais sério, a participação de Nuno Markl torna a música muito mais excêntrica. Afinal, parece que Cláudia Pascoal também não deixou que Markl participasse, pois estava sempre a interrompê-lo.

A próxima faixa conta com a produção de Tiago Bettencourt, e é um pouco simplista, o que nos faz concentrar mais na voz. A história de “Espalha Brasas” é a de um casal, onde Pascoal tem de fazer tudo pelo outro. Incluindo em situações de intimidade, o parceiro nunca tem iniciativa e se não é ela a “espalhar as brasas” não acontece nada entre o casal. É uma das mais divertidas e únicas de todo o conjunto.

“Quase Dança” mostra realmente a versatilidade da artista. Na mesma música junta ukulele ao rancho folclórico de forma excelente. Fala provavelmente sobre o mesmo parceiro que é mencionado em “Mais Fica P’ra Mim”. Ficamos a saber que enquanto numa relação com a cantora, mantinha conversas com outras raparigas. O rancho entra, pois Cláudia Pascoal faz referência à dança do vira, como uma dança que os dois dançam: não se tocam e estão muitas vezes de costas voltadas um para o outro.

O ukulele é um instrumento que acompanha bastante Cláudia Pascoal e marca presença em “Ter E Não Ter”. Aqui, a artista parece falar de uma relação à distância, tanto física como emocionalmente. Aponta aspetos como “abraçados através de um ecrã” e “sozinha numa mesa para dois” como se o casal simulasse os encontros físicos no online. Contudo, isto parece não resultar e surge a distância emocional. A voz da artista revela-se, de certa forma, quebrando um pouco com o ritmo divertido que temos ouvido até agora.

Uma das músicas mais bonitas do conjunto conta com a produção e participação de Samuel Úria. O significado que “Viver” transmite é o de ter gosto pela vida e pelo imprevisto. Daí no fim dizer “vou rumo ao mistério”, como que a expressar a vontade de viver experiências diferentes em vez da rotina de existir. As vozes dos dois artistas combinam perfeitamente neste que foi o primeiro single.

A partir desta faixa, o ambiente fica um pouco triste e as músicas são mais calmas como se simbolizassem os momentos mais tristes da vida. “Já Não Somos Animais” fala sobre o fim de uma relação, onde Cláudia Pascoal já não se sente segura, graças à volatilidade do parceiro. Usa bastante o piano, tornando-a mais intensa. Contudo, não se destaca tanto como outras músicas, tal como a, “Vem Também”, por exemplo, que é um pouco melancólica e ambígua.

“Espero Por Ti Lá Fora” é uma balada de amor. Simboliza quase o momento em que nos apaixonamos e se dá aquela “faísca”. David Fonseca escreveu esta música e nota-se bastante o seu estilo. Uma vantagem de os ritmos abrandarem é conseguirmos desfrutar ainda mais da voz de Cláudia Pascoal.

O gosto pela vida e pela liberdade é novamente tema em “Tanto Faz”. É uma música peculiar e a parte final inclui uma conjugação de instrumentos bastante interessante. Vai apresentado conceitos e fenómenos contrários e diz que não importa qual deles acontece pois é sempre impossível de prever o futuro.

“Soldado” sai um pouco do tema principal e do normal das músicas deste álbum, contudo consegue ser das melhores do conjunto. Conta a história de um casal em que ele é um soldado que partiu para a guerra. Despediu-se da amada cedo, e passaram-se anos até que pudesse voltar. Trazia consigo um retrato da mulher, contudo esta não o reconheceu e acabaram por seguir caminhos distintos.

O álbum acaba de forma tão genial como começou. A “Música De Um Acorde” não é nada mais nada menos que quatro versos e um acorde. Cláudia Pascoal começa a cantar os quatro versos e de seguida vão aparecendo nomes já aqui mencionados como Samuel Úria e Tiago Bettencourt. Também Francisco Murta, Isaura, e todos que a ajudaram a constituir este álbum, incluindo o rancho folclórico. Nuno Markl tem também o seu momento de glória ao cantar os quatro versos ao piano.

No fim de ouvir ! ganhamos mais uma razão para seguir o trabalho de Cláudia Pascoal. A artista portuguesa lançou-se após ter ganho o Festival RTP da Canção em 2018. Apresenta músicas agradáveis e bastantes originais, mas também algumas mais monótonas que não revelam as verdadeiras capacidades da artista. Mesmo assim, esta exclamação à vida foi uma excelente forma de se estrear.