A UMinho é a universidade com o maior número de bolseiros de ação social em Portugal. Perante estes dados e a situação atual do país, Rui Vieira de Castro anunciou a oferta de computadores e internet aos alunos carenciados.
São mais de 19 mil estudantes de 200 cursos que no último mês se tiveram de habituar a ter aulas à distância. Apesar da Universidade do Minho se ter adaptado a esta realidade em menos de uma semana, nem todos acompanharam. Existem alunos sem internet ou sem acesso a nenhum computador. No despacho publicado esta segunda-feira, a academia minhota anunciou que a restante atividade letiva do segundo semestre vai continuar a ser assegurada através do modelo de ensino a distância.
Antes do anúncio feito aos jornalistas, esta quarta-feira, pelo reitor Rui Vieira de Castro, o ComUM falou com dois estudantes que não embarcaram nesta jornada virtual. João*, aluno de História, não tem assistido a aulas. Não tem computador e desabafa que acompanhar as aulas pelo telemóvel é disfuncional. Os professores têm noção da situação em que se encontra. Demonstrou-se contra as aulas virtuais e criticou a desorganização do sistema, pois, com o modelo em vigor, se conseguissem entre dez e 11 nas avaliações, seriam vistos como “heróis”.
“Nós, comunidade estudantil é que somos os mais prejudicados, pois dependemos duma média e tudo isso está a ser posto em causa”, apontou o estudante. Realçando que para situações excecionais são precisas medidas excecionais, sugeriu a utilização duma nota académica universal, uma vez que “neste caso mais vale beneficiar os alunos do que piorar a sua situação” e “é preferível todos passarem com boa nota do que para o ano termos que melhorar cinco disciplinas”.
Num outro cenário, Miguel*, aluno de Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores (EEIC), não tem internet na sua residência e sente-se forçado a recorrer ao serviço de dados móveis. “Para isto vi-me obrigado a averiguar quais as aulas de maior importância (aulas com presença obrigatória) e só assistir a essas, visto que tenho um limite de tráfego e inclusive já me vi obrigado a renová-lo várias vezes do meu bolso”, contou.
Admite, também, que se encontra num curso com bastante componente prática, onde é essencial usar materiais específicos aos quais só tem acesso na universidade. A solução conseguida pelo curso foi o uso de softwares de simulação que ficam “muito aquém” da experiência presencial.
Em relação às aulas a distância, salvaguarda que “é viável para os estudantes que disponham dos meios para assistir na plenitude às aulas e para certos cursos mais teóricos”. Todavia, pela sua experiência nestas semanas, “não se vê qualquer esforço por parte dos professores em arranjar uma solução para alunos que, como eu, não têm meios de assistir com regularidade às aulas”.
No meio das adversidades, surgem histórias de solidariedade. O ComUM soube que os alunos do primeiro ano de Ciências da Comunicação ofereceram um computador a uma colega que não tinha. Carla*, responsável pela ideia, disse que a boa vontade da turma foi o grande motor da iniciativa. “Era uma necessidade e nós podíamos fazer alguma coisa para mudar isso”.
Num curso, que tal como em EEIC, são indispensáveis softwares próprios para produção e edição de conteúdo, a turma percebeu as dificuldades da aluna por comentários esporádicos no grupo de amigos mais próximos. Carla* sublinhou que, antes desta nova situação, a aluna ia “mais cedo para a universidade para puder usar os computadores em horários que não comprometessem nem as aulas nem o regresso a casa [a deslocação exige autocarro e comboio]”.
Contudo, recorda que “é apenas um caso de muitos que há na universidade. Para além disso, reforça: “nós fizemos a nossa parte, mas estes tipos de problemas não devem ser resolvidos pelos alunos”.
UMinho fornece ajuda para alunos adquirirem material
Rui Vieira de Castro propôs, em conferência de imprensa, esta quarta-feira, a alteração do regulamento do Fundo Social de Emergência para “as verbas deste fundo serem canalizadas para a compra ou para o apoio à compra de equipamentos e comunicações”. O objetivo é “procurar assegurar que os estudantes dispõem dos meios que lhes permitem acompanhar as atividades letivas”. A academia minhota conta, também, com uma campanha de angariação junto dos antigos alunos da instituição.
A Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) e os diretores dos cerca dos 200 cursos da universidade já estão a fazer o levantamento das situações mais críticas de estudantes que não têm condições financeiras para adquirir equipamentos nem têm Internet em casa.
A UMinho é onde está, em absoluto, o maior número de bolseiros de ação social universitária de Portugal. São cerca de 6000 alunos, correspondentes a quase um terço do total da academia minhota. Esta realidade tem a ver com as caraterísticas do tecido económico e social onde a universidade recruta os seus estudantes. Em comunicado, a AAUM apela ao corpo docente “a melhor das compreensões para as dificuldades apresentadas por alguns estudantes”.
*Todos os nomes utilizados nesta reportagem são fictícios para preservar a identidade dos alunos com quem o ComUM conversou.