A temática veio a propósito do 25 de Abril e foi discutida em registo online.

A Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho (ADAUM) realizou esta quarta-feira um debate associado ao tema da Revolução do 25 de Abril. Em cima da mesa estava a moção de que o governo, “em retrospetiva, teria proibido indivíduos ligados à estrutura do Estado Novo, de se candidatarem a cargos políticos após a transição para o regime democrático”.

O primeiro Governo definiu o Estado Novo como “um sistema opressivo baseado na ideologia fascista utilizado para controlar o país e a população”. No grupo de “indivíduos ligados a esta estrutura” estão “os membros e informadores da PIDE, da União Nacional e do Governo”. A equipa afirma não querer “a liderar o país pessoas indiferentes ao seu povo e que apenas frequentam os cargos políticos para seu próprio benefício”.

No entanto, existem políticos sob estas influências “que acabam por se candidatar e até ganhar”. São eleitos “não por representarem a ideologia do povo, mas por terem criado uma nova imagem deles próprios e mentirem nas ideias que defendem”. A título de exemplo, “Cavaco Silva que foi informador da PIDE e, ainda assim, tornou-se primeiro-ministro e manteve-se presidente da república durante dez anos”.

A primeira Oposição constatou que “antes do 25 de Abril, Portugal era um país pobre, com muita gente a passar fome, pouca mobilidade social e no qual se perdiam muitas vidas e dinheiro para a Guerra Colonial.” Estava também “a perder potencial com as grandes vagas de emigração” graças à inexistência da liberdade de expressão e às precárias condições de vida. Após o golpe, “exilaram-se vários decisores e muita gente crucial para o Estado Novo já foi barrada do país”.

Para a primeira Oposição, uma das vantagens de não permitir esta moção passa pelo “reaproveitamento do conhecimento e da expertise política” dos envolvidos no regime anterior. Tal impediria que profissionais sem experiência no campo político tomassem decisões prejudicais para o país e que viessem fomentar “a comoção social que se gerou após o 25 de Abril”. Sublinhou ainda que “o facto de as pessoas estarem de alguma forma ligadas ao Estado Novo, não significa que seja nisso que acreditem”.

O segundo Governo salientou a ameaça que se dá ao sistema quando “pessoas inerentemente corruptas participam nas eleições”. Ou seja, indivíduos que “já sacrificaram valores morais para fazerem parte de um regime opressor por aceitarem exercer um cargo que os beneficie apenas a eles, sabendo que vão prejudicar milhares de outras pessoas”.

A segunda Oposição retaliou, afirmando que “um regime autoritário é um regime coercivo, o que leva as pessoas a comparticipar nele”. Não por partilharem os mesmos ideais, mas por medo das consequências que podem surgir ao não agirem em concordância com o mesmo. Acrescentou ainda que, ao aprovar esta moção, “corremos o risco de passar de um regime ditatorial para outro”. Atente-se que “a maior parte da população portuguesa não sabia o que era viver em democracia” daí não saber reconhecer este modelo de funcionamento político por não ter termo de comparação.

A Adjudicação apurou então que a segunda Oposição ficou em primeiro lugar com “relativo distanciamento das outras equipas” dada a “boa leitura da moção, que estabeleceu a métrica correta para o debate”. A classificação deve-se ao facto de declararem que “em retrospetiva, e sabendo o desfecho da decisão de não proibir os indivíduos em questão de se candidatarem a cargos na recém instaurada democracia, tomar a decisão contrária criaria um risco de criar uma nova ditadura”, algo indesejável para a população portuguesa.

A Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho

A ADAUM organiza, todas as semanas, às quartas-feiras, debates temáticos, através de uma inscrição prévia. O formato dos debates da ADAUM segue o modelo do parlamento britânico: após revelada a moção, as quatro equipas participantes (primeiro e segundo Governos e primeira e segunda Oposições) dispõem de 15 minutos para estabelecer argumentos. Posteriormente, apresentam o seu discurso de maneira cruzada. No final, cabe à Adjudicação avaliar e apurar qual a equipa que obteve melhor desempenho.

É de salientar que, nos debates promovidos pela ADAUM, não são emitidos pareceres pessoais quanto às problemáticas abordadas. As atividades consistem, assim, em averiguar os dois lados da moção e advogar em função da posição da equipa onde se encontra cada elemento – a favor ou contra.