Highlight é o álbum de estreia de St. James Park.
St. James Park é o projeto a solo de Tiago Sampaio, onde o músico explora a música eletrónica. Highlight é o álbum de estreia e foi lançado em março. O artista integrante da banda bracarense Grandfather’s House esteve à conversa com o ComUM sobre o novo projeto, os fãs e como criar música em plena epidemia mundial.
ComUM: Em tempos de quarentena, como tem sido a experiência de trabalhar por casa?
Tiago: Tem sido boa, apesar de toda a parte negativa. Tenho a sorte de ter o estúdio em casa, então para mim tem sido bom porque consigo trabalhar mais um bocado e, se calhar, sem as distrações que costumo ter ao ter de sair de casa. No que toca a trabalho, tem sido mais produtivo. Agora, como conseguimos trabalhar à distância, estes dias têm sido bastante produtivos.
ComUM: Sendo que é impossível dar concertos ao vivo, como te tens adaptado?
Tiago: Ao início foi um bocado estranho, porque nos apanhou a todos de surpresa e o set que tinha preparado para acontecer ao vivo acabou por ser moldado um bocadinho ao que quase toda a gente está a fazer agora, o streaming. Tem sido um bocado estranho porque acabas uma música e não tens os aplausos do público, há uma barreira muito grande. Mas dentro do possível e com tudo o que aconteceu, ainda bem que temos internet e conseguimos moldar as coisas desta forma, de outra maneira ia ser muito estranho.
ComUM: Consideras que as redes sociais são uma ajuda a manter a proximidade com o público?
Tiago: Acho que sim. No outro dia estava a refletir sobre isso e acho que posso dividir esta questão em duas. Nesta fase acho que é fundamental conseguirmos manter o contacto uns com os outros, conseguir fazer chamadas de vídeo com amigos ou para trabalho, ou seja, aproxima mais as pessoas porque antes de existirem as vídeo-chamadas, existiam chamadas telefónicas, mas não era a mesma coisa. Então antes dos telemóveis, era impossível, assim era mais complicado. Mas acho que sim, em geral as redes sociais conseguem aproximar-nos mais, às vezes só pelo facto de seguir alguém. Eu falo por mim, artistas que eu admiro, sinto que estão próximos do público, sempre que vejo posts ou instastories deles e acho que isso aproxima muito mais o público dos artistas. E mesmo o facto de poder mandar uma mensagem a um artista que está em LA, por exemplo, podes contactar com ele, o que antigamente era impossível. Acho que as redes sociais são importantes nesse aspeto.
ComUM: Como achas que este novo álbum foi recebido pelo público?
Tiago: Foi ótimo. Eu e a minha editora fizemos o lançamento e eu tento sempre não ter muitas expectativas e deixo sempre que o disco e o potencial da música falem por si e neste disco isso foi incrível. Recebi muito carinho das pessoas. Até algumas que não conhecia, mandaram-me mensagem a transmitir-me bastante carinho e a dizer que adoraram as músicas. Acho que tem sido muito positivo.
ComUM: Esta ideia de um projeto a solo foi um projeto desenvolvido ao longo de vários anos ou é uma ideia mais recente?
Tiago: O projeto a solo já é algo que tenho tentado desenvolver, porque eu sempre tive bandas e sempre desenvolvi o meu percurso com bandas. E, há coisa de três, quatro anos, senti a necessidade de aprender mais e perceber como funcionava a produção de música eletrónica, produção num computador, perceber como funcionava um sintetizador. Poder trabalhar as coisas com mais calma, onde, basicamente, as minhas ideias são as que estão ali presentes. E o lançamento do disco foi um trabalho que veio por acréscimo. Devo ter feito, sem exagero, quinze ou dezasseis álbuns porque ia sempre fazendo músicas e trabalhando. Até que comecei a pensar num disco e num projeto mais recentemente, porque achei que fazia sentido, achei que tinha alguma coisa a dizer e achei que tinha ali algum material que poderia ser editado.
ComUM: Apesar de ser um projeto a solo, o álbum conta com a participação de artistas como noiserv, IVY e Lince. Como foi trabalhar com estes artistas?
Tiago: Foi muito bom. Foram experiências muito diferentes. Apesar de já ter trabalhado com outros artistas, como os Grandfather’s House, estas foram três formas diferentes de trabalhar três músicas diferentes. Pelo menos com a IVY, sendo ela minha irmã, teve um papel muito presente no disco e ia acompanhando a evolução dos temas e foi uma participação quase por acréscimo. Estávamos um dia no estúdio e decidimos naquele momento que ela ia cantar uma música e ficamos os dois muito contentes com a ideia. Então, numa tarde, praticamente, conseguimos fazer o tema dela. Com a Sofia e com o David foi um bocado à distância porque eles são ambos de Leiria, então trabalhamos sempre à distância. Com ao Sofia lembro-me de ir um dia a Leiria e gravarmos o tema em casa dela, foi engraçado. Com o David fizemos o tema em tempo record, porque eu tinha um mês para entregar o disco à editora e ainda andava a pensar quais os potenciais convidados e ainda não tinha encontrado alguém que, na minha visão, fosse encaixar na música. Então, de repente, lembrei-me do David, telefonei-lhe e disse-lhe “temos isto para fazer em três semanas”, ele escreveu o tema, trabalhamos muito rápido e acho que foi bastante positivo.
ComUM: Tendo sido este álbum gravado e produzido por ti, como descreverias a experiência?
Tiago: Foi incrível perceber que, se calhar, há quatro anos, olhava para um computador e não percebia nada e não sabia fazer nada e fui sempre aprendendo, trabalhando todos os dias, mesmo na parte da produção e de composição. É um desafio muito grande perceberes e trabalhares um disco sozinho, há muitas limitações, porque de certa maneira pode estar a maior “azeitice” de sempre e tu nem sequer reparas. Pode estar muito mau ou muito bom e nem te aperceberes. Foi um processo super engraçado, lembro-me de no final, quando acabei o disco, estar a testar os temas no meu carro e perceber “isto está a soar super bem e fui eu que fiz isto tudo”. Foi um sentimento muito gratificante.
ComUM: Gostarias de acrescentar algo mais sobre este processo e sobre o panorama que vivemos na atualidade?
Tiago: Há muita coisa para dizer, mas, no geral, tenho gostado imenso de experimentar estes temas em streaming, porque é um desafio estar eu e as máquinas a fazer um concerto. Nunca tive a oportunidade de estar sozinho em palco, foi a primeira vez. Não num palco, mas em estúdio. Espero que isto passe rápido e que as pessoas voltem ao normal. Espero que haja algumas mudanças ao fim desta quarentena e espero poder levar estas musicas ao vivo o mais rápido possível e poder trabalhar mais músicas com mais gente.