Foi com Stalli Freestyle que Megan Thee Stallion deu à costa no mundo do Rap em 2017. Até aos dias de hoje, através dos seus múltiplos alter egos, tem vindo a contagiar o universo do Rap feminino. Em 2020, dá-nos a conhecer Suga.

Através da primeira música do álbum, “Ain’t Equal”, Megan Thee Stallion apresenta-nos as conquistas profissionais. Refere ainda que a fama não traz apenas vantagens, cria inimigos e, acima de tudo, inveja – “A bunch of bitches talking down ‘cause I’m coming up / I know some people in my own city hating on me”.

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“Ain’t Equal” apresenta um dos melhores beats e flows do álbum inteiro. Apesar de consistir numa carta aberta a todos aqueles que não gostam de Megan e a uma subtil provocação a outras artistas (“It’s a difference in the bitch who rap and the bitch who rap for real”), a rapper aproveita também para falar dos seus problemas pessoais, como por exemplo, “I lost my momma and my grammy in the same month”.

A capacidade da artista de integrar fragilidades pessoais nas músicas garante-lhe um toque mais real. Na segunda música do álbum, “Savage”, Megan usa referências a músicas anteriores, o que permite inferir que a artista expõe situações não fictícias e não tem receio de demonstrar a continuidade ou descontinuidade do seu pensamento. Mais uma vez, demonstrando que é, antes de artista, uma mulher de carne e osso.

Como o próprio nome indica, “Savage” presenteia-nos com realidades selvagens e, qui sait, primitivas ou semi-preconceituosas. Não seria a música introduzida por “I’m that bitch / Been that bitch, still that bitch”. No entanto, Megan deixa claro que existem dois tipos de “bitches” e digamos que não se considera o tipo negativo.

A artista aproveita para referir que é “classy, bougie, ratchet / sassy, moody, nasty.” Para além disso, afirma que não precisa que ninguém se intrometa na sua vida amorosa. Declara ainda que aquilo que verão do seu companheiro será aquilo que ela quer – “Eat me and record it, but your edge-up all I’m showing (Ah) / I keep my niggas private, so his AP all I’m showing (Baow)”.

Se até este momento os menores de idade e mais sensíveis não deixaram de ler este artigo, aconselho-os a moderarem a tensão. A terceira música do álbum chama-se “Captain Hook”, poderia assim tratar-se do ataque a um arqui inimigo ou até à exploração da magia envolvida no filme Peter Pan, mas não.

“Captain Hook” corresponde a uma metáfora sexual. O gancho representa o órgão sexual masculino,  a sua curvatura permite o alcance do ponto G e, consequentemente, uma maior satisfação sexual. “I like a dick with a little bit of curve / Hit this pussy with an uppercut / Call that nigga Captain Hook”. Por isso, se até ao momento não referi, aproveito para referir agora que as músicas de Megan podem ser bastante explícitas.

A quarta música do álbum vem acompanhada por Kehlani, uma cantora americana conhecida, por exemplo, pela obra “Honey”. “Hit My Phone” introduz a versão mais doce das diferentes composições. Além disso, traz consigo um ritmo mais funky.

“Hit My Phone” faz alusão à necessidade de perdoarmos o comportamento humano perante duas circunstâncias específicas – quando nos sentimos sozinhos (“We ain’t tryna make it home and I don’t wanna be alone”) e quando nos encontramos sobre a influência de estupefacientes (“Liquor got me sendin’ that risky text”). Infelizmente esta, juntamente com “Rich”, serão as músicas mais comerciais do álbum inteiro.

“B.I.T.C.H.”, a quinta música do álbum, dá-nos mais um clássico de R&B. Ao longo da lírica, fala-se sobre o respeito próprio e necessário para que um relacionamento possa funcionar – “You say you want respect? Well treat me how you wanna be treated”. Megan Thee Stallion refere ainda que sabe satisfazer um homem, mas deixa transparecer que há momentos em que não tem vontade de assentar.

Esta é ainda a única música de Suga com videoclipe. No mesmo, podemos ver a artista a falar consigo própria, a confrontação de dois dos seus alter egos,  Tina Show e Suga. Ouve-se “you can’t keep let motherfuckers get all over you, you don’t need to be playing to nice with everybody”, referindo que às vezes é preciso ser aquela “bitch”.

Em “Crying In The Car”, a premissa mantém-se semelhante. Basicamente, a artista encontra-se numa pep-talk com ela própria. Para além disso, pede ajuda a Deus – “Please don’t give up on me Lord / Promise to keep goin hard”. Durante esta música, conseguimos identificar o uso excessivo de auto-tone e a presença, surpreendente mas agradável, de vozes em coro.

“Stop Playing” é a segunda música do álbum com um feauturing. Neste caso, Megan Thee Stallion faz-se acompanhar de Gunna, um rapper americano. A música é introduzida pela repetição da premissa do seu título, nome versão computorizada da artista.

Graças a Deus, essa técnica não prevalece. Sendo assim, a música muda o ritmo para uma base bastante descontraída. Ao longo da música, Megan refere que nada mudou  – “Before I was rich, I was poppin’ my shit / Now that I’m lit, ain’t shit changed”.

Por fim, em “What I Need” é percetível o lado mais sentimental da artista. Apesar de Megan Thee Stallion querer focar-se na estabilidade profissional e num maior reconhecimento enquanto artista, afirma também precisar do homem que ama ao seu lado – “Boy if you don’t see me in your future you can’t see / My body only work for you I’m a love machine”.

Talvez não seja desta que o público de Megan Thee Stallion se identifique, que nem uma luva, com os alter egos da artista. De qualquer das formas, tem aqui um álbum de, aproximadamente, 24 minutos para se deliciar e surpreender com a lírica e capacidade interpretativa da rapper.