Baseado na obra de renome homónima de H. G. Wells, O Homem Invisível, realizado por Leigh Whannell, reconta o clássico da perspetiva da vítima. Num filme em que o maior elemento causador de terror é a própria imaginação do público, a performance envolvente dos atores ganha o maior destaque.

A narrativa foca-se na história de Cecília, uma arquiteta que procura sair de uma relação abusiva com Adrian Griffin, um engenheiro ótico de renome. Após conseguir escapar uma noite, “Ce” (como é apelidada) refugia-se na casa de um amigo, o detetive James Lanier, por acreditar que Adrian não será capaz de a encontrar lá. Duas semanas após a sua fuga, é revelado que o ex-companheiro se suicidou e lhe deixou cinco milhões de dólares. A partir daí, acontecimentos estranhos começam a desenrolar-se como se uma entidade invisível estivesse a perseguir a protagonista. Cecília lembra-se então de um projeto no qual Griffin estava a trabalhar e junta as peças do puzzle.

O Homem Invisível

Com a ausência de homens de fato sem cabeça, como era costume em adaptações passadas, O Homem Invisível opta por manter a ameaça completamente invisível, para que nem o público perceba onde se encontra. Isto é, na minha perspetiva, um dos pontos mais inteligentes na realização do filme, visto que se aproveita do pior da imaginação e dos medos de cada pessoa.

A estratégia passou por apontar a câmara ligeiramente para um certo ponto do cenário, de forma subtil o suficiente para que seja apenas sugerido que algo possa estar naquele local. Ao fazer isso, o próprio espectador passa o tempo todo em alerta, sentindo-se ele próprio perseguido, sem saber onde ou quando o próximo ataque vai ocorrer. Em adição, são-nos presenteadas algumas cenas inesperadas ao longo da longa-metragem, que o salpicam de adrenalina para manter o público atento ao que, sem isso, seria uma produção relativamente parada.

Em contrapartida, a narrativa sofre bastante com a existência de cenas cujo único propósito é o avanço do plot. Por diversas vezes personagens agem de forma incaracterística e pontos da narrativa são tratados de forma inconsistente, como é o caso da forma como o fato funciona.

O Homem Invisível

O elenco funciona como um substituto ao exagero de efeitos especiais que este género de filmes costuma ter. Mantendo esse aspeto simples, é maioritariamente a prestação de Elizabeth Moss que carrega a energia e a paranoia da história na perfeição. A atriz de renome apresenta nas suas expressões faciais todas as falas que não precisam de ser ditas. O pavor do seu olhar mantém-se até ao último segundo, onde se transforma num sorriso por finalmente ter vencido.

Em retrospetiva, e apesar do estilo singular do jogo de câmaras para exprimir o terror, O Homem Invisível acaba por não ter muito mais de novo a apresentar, podendo resumir-se a mais um trabalho de perseguição. Com a abordagem da perspetiva da vítima, acabou por desviar-se da essência da obra de H. G. Wells, ficando talvez aquém do clássico.