Uma ilha deserta, a queda de um avião e um grupo de jovens rapazes sozinhos. É esta a receita de sucesso para um livro que nos conquista desde o primeiro momento. Com medo e ternura em simultâneo, O Senhor das Moscas dá-nos uma boa lição.

Durante uma guerra nuclear, um avião que transportava um grupo de jovens rapazes britânicos cai numa ilha deserta. Sem qualquer supervisão adulta, o desafio centra-se em garantirem a sua sobrevivência até serem eventualmente resgatados.

Inicialmente, o grupo gere com tranquilidade e racionalidade a situação. Elegem Ralph, um rapaz de 12 anos, como o líder. Utilizam sistemas organizados de comunicação, dividem tarefas e tentam combater o medo que os envolve durante toda a narrativa. O líder não desempenha sozinho a sua tarefa, conta com Piggy, que assume a parte mais racional da liderança, e com Sam e Eric, dois gémeos que acatam facilmente ordens e desempenham com agrado as o que lhes é pedido. Contudo, a situação começa a ficar fora de controlo quando Jack, o antagonista da narrativa, resolve revoltar-se contra a liderança de Ralph e procura destabilizar as dinâmicas do grupo.

William Goulding, O Senhor das Moscas

O segredo de O Senhor das Moscas história passa pela riqueza das personagens que representam diferentes características e posições que os humanos podem adotar ao longo da vida, principalmente em momentos de maior tensão ou quando são atormentados pelo medo. Cada rapaz representa uma determinada qualidade ou defeito. Quando bem usados, podem contribuir para a sua sobrevivência, quando usados de forma negativa, podem pôr em causa a vida dos próprios ou de algum dos seus companheiros. Outro ponto forte são as falas e as diferentes interações, que ajudam a explorar as dinâmicas de poder que se estabelecem na nossa sociedade e como as mesmas são encaradas.

A atmosfera é repleta de elementos da natureza, o que confere um maior ritmo e vitalidade a toda a narrativa. Sendo uma história carregada de simbolismo, o objetivo final é explorar três características que são inerentes ao ser humano, dentro da perspetiva do livro: o desejo por ordem política, a propensão para a violência e a crença em forças do divino.

É então possível inferir que O Senhor das Moscas procura explorar o medo, mas também a coragem, num livro escrito de forma inteligente e acessível. Capaz de nos deixar com um sentimento de estupefação assim que a terminamos, é uma obra que não deixa nenhum leitor indiferente.