Reconhecido a nível nacional e internacional como o melhor realizador de cinema português, Manoel de Oliveira faleceu há cinco anos, no dia 2 de abril. Por entre dezenas de filmes, todos diferentes entre si, e um percurso pouco convencional, o seu legado resiste e promete perpetuar-se no tempo.

Nasceu a 11 de dezembro de 1908, no Porto. Descrito numa obra biográfica por Paulo José Miranda, “não era de convívio fácil, poucos com aquele génio o devem ser”: “não aguentava ver pessoas com tatuagens e o modo como se relacionava com as mulheres vinha de outra época”.

Apesar de antigo de costumes e comportamentos, era impressionantemente “jovem ao filmar”, assume o autor. Para além disso, parecia mudar o seu génio e modo de pensar de uma produção para outra, “nunca ia filmar de forma igual”.

Manoel de Oliveira

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O primeiro filme do português foi Douro, Faina Fluvial (1931). Trata-se de uma carta de amor à ribeira do Porto, sua cidade natal, e a quem lá trabalhava. Um documentário a preto e branco e carente de diálogos, não estivéssemos em plena época do cinema mudo. Mesmo assim, os planos e montagem criativa falam por si.

Ao documentário seguiram-se muitos e variados trabalhos. Destacam-se Aniki Bóbó (1942), Acto da Primavera (1963), O Passado e o Presente (1973), Non, ou a Vã Glória de Mandar (1990), Os Canibais (1988), O Convento (1995) e Vou Para Casa (2001).

Para além dos anteriores, Manoel de Oliveira produziu ainda Amor de Perdição (1978), uma adaptação da obra de Camilo Castelo Branco que estreou na RTP em seis episódios, a preto e branco e com uma linguagem antinaturalista. Devido à abordagem fora do comum, a longa-metragem foi logo criticada pelo público português. Porém, a imagem do trabalho foi salva em estreia na Itália e na França, onde foi aclamada pela pintora Vieira da Silva “a única grande obra de arte portuguesa dos últimos anos” e “uma obra-prima” pelo público em geral.

Há cinco anos, a insuficiência cardíaca pôs um ponto final no trabalho do português. No entanto, para além de quatro filhos do seu casamento com Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais, o realizador deixou um legado que vai para sempre marcar o cinema português.