Rina Sawayama no dia 17 de Abril lançou o debut álbum de estúdio SAWAYAMA. O sucessor ao mini álbum RINA, que produziu independentemente em 2017, possui um caráter mais experimental.

Desta vez sobe a record label Dirty Hit, a mesma da banda The 1975, e produzido por Clarence Clarity, a cantora britânico-japonesa traz uns dos melhores álbuns do ano. Abordando temas como a família, identidade cultural, amor e até o capitalismo em conjunto com um explosivo genre-mix de Nu-Metal com Pop Experimental e RnB Rina veio deixar a sua marca no mundo da música.

twitter.com/RinaSawa

Dynasty” é a primeira música do álbum e começa por introduzir o tema da família. A cantora cresceu numa família destroçada, o que afetou o crescimento e integração da artista na mesma. Viveu com o peso que iria seguir os passos dos pais e cometer os mesmos erros – “The pain in my vein is hereditary”. No entanto, um sentimento de revolta vai crescendo com a música e enche-a de força, sendo que no final ela canta como vai mudar e passar a ser fiel a si mesma

De seguida temos “XS”, no sentido de “excesso”. Fala sobre o capitalismo, consumismo e o consequente impacto global que apavora a cantora. Nesta faixa são enumeradas as correntes formas de mostrar o poder económico “Cartier set, Tesla Xs / Calabasas, I deserve it” e o ego que provêm de ter tudo.

O refrão é uma crítica à mentalidade destes indivíduos: num planeta com recursos finitos, o desejo de obter mais é insustentável e perigoso. A música tornou-se ainda um desafio na plataforma digital Tiktok, onde os fãs recriam a coreografia do videoclipe.

STFU!” foi o primeiro single deste álbum e foi um choque para os fãs. Afastando-se do Pop e entrando no Nu-Metal e influências Rock, esta música foi uma das bases para este álbum.

Foi escrita para libertar a fúria acumulada dos comentários racistas, que tem que ouvir e suportar, devido à sua descendência japonesa. A artista solta tudo e combina com um forte Rock para dizer o que gostava de ter dito quando ouve alguns comentários “Shut the fuck up (shh)”.

Comme des Garçons (Like the boys)” ao contrário de “STFU!” é mais de um estilo Pop-Dance feito para provocar uma sensação de auto-confiança no ouvinte. Baseada também na marca de roupa japonesa do mesmo nome, Rina tencionou criar um banger inspirado no estilo Dance dos anos 2000s para ser ouvido na noite.

O tópico de identidade cultural começa com “Akasaka Sad”, a quinta música deste álbum. Akasaka é um bairro na cidade de Tokyo onde a cantora gosta de ficar e onde, inclusive, escreveu esta música.
A cantora escreve como os sentimentos depressivos a perseguem independentemente onde se encontra “Flew here to escape/ But I feel the same”.Com uma vertente musical mais Eletrónica e de Pop Futurista, a faixa inclui um verso em japonês.

Paradisin” é a próxima e usa como inspiração os sons dos jogos retro japoneses. É uma música feliz e animada que fala sobre momentos de rebeldia contra a mãe na adolescência e como ela a apanhava sempre.

Rina explica em “Love me 4 me” o desafio que sente em gostar de si própria e como tenta mudar para seguir os standards impostos pela sociedade. A letra começa com uma quote da Drag-Queen Rupaul “If you can´t love yourself/ How are you going to love somebody else?” do programa norte-americano Rupaul`s Drag Race.

Voltando a um estilo mais Eletrónico,Bad Friend” é um pedido de desculpa a uma amiga querida da juventude. Apercebeu-se que se afastaram por sua culpa e relembra os bons momentos que passaram juntas: “Hot, crazy, and drunk, five in a room/ Singing our hearts out to Carly, sweat in our eyes”. A cantora revelou numa entrevista que voltaram a ter contacto, através do envio desta faixa em primeira mão.

Fuck this world (interlude)” é a música mais curta do álbum e toca no tema do aquecimento global. A artista fala da mágoa que sente pelos privilegiados não quererem saber da situação, sendo que são os causadores da mesma: “sick of what you people taking / From the bottom to feed the top”.

Criando uma atmosfera de arena de Rock em “Whos Gonna Save U Now?”, Sawayama canta o coração fora ao som de aplausos dos ouvintes. O tema aborda uma possível relação tóxica que acabou.

A 11ª música é “Tokyo Love Hotel” e é o ponto alto da batalha com a sua identidade cultural. Apesar de ter nascido no Japão, emigrou muito nova para o Reino Unido e quando viaja para Tokyo sente-se sempre uma outsider apesar de ser japonesa. O título deriva dos Love Hotels japoneses feitos para sexo casual.

A penúltima música é “Chosen Family” uma emocionante música que mistura elementos acústicos e eletrónicos. Os amigos mais próximos de Rina Sawayama tornaram-se na sua família e criam assim um espaço seguro para ela. O conceito por detrás desta pode ser como os indivíduos LGBT criam famílias com entes queridos por terem sido expulsos da família de nascimento. Rina revelou também que é pansexual, o que consolida ainda mais o conceito desta música.

Snakeskin” é a última faixa e fecha o álbum da melhor maneira. Após este genre-mix, emoções e vulnerabilidade, Sawayama deixa para trás quem era reinventando-se.

Nesta música com um tom triunfante e heroico, baseado no tema de vitória da franchise “Final Fantasy”, acaba com um leve solo de piano, e termina assim o álbum com um momento de reflexão.

Este é, sem dúvida, um dos melhores álbuns que vieram para já de 2020. Rina Sawayama é uma artista com um enorme potencial e visionária no que cria.