The Chats são um grupo de rapazes – Eamon, Josh e Matt – da Austrália. O estilo de puro Punk e Rock transpõe-se em todas as faixas da discografia da banda. Com apenas 4 anos em ação, The Chats são já um dos nomes mais representativos do género Punk da atualidade.
“Smoko” e “Pub Feed” foram os singles que projetaram os rapazes da terra dos cangurus para o sucesso. Músicas que representam, basicamente, o “dogma” da banda: espírito rebelde, sem regras, sem limites. Com High Risk Behaviour, o trio continua o estilo que vinha desde já a cultivar: um Garage Punk/Pub Rock/Surf Punk ou até um “Shed Rock” – forma como a banda descreve o seu som.
Com uns estrondosos – sarcasmo – 28 minutos e 14 faixas, o álbum arranca logo com o pedal a fundo com “Stinker”. Uma das várias músicas onde se fala “da forma de viver” na Austrália – um monte de “piss, shit and blood” rodeados de cerveja e calor. Pelo menos têm cervejas.
O carro não desacelera enquanto zarparmos de imediato para “Drunk and Disordely” que, podemos já imaginar pelo título, se refere a mais álcool no sistema e a causar caos por onde os rapazes passam. O instrumental preenche todos os requisitos do clássico Punk dos anos 70/80: guitarras distorcidas, melodias hipnotizantes do baixo e uma bateria simples, mas que nos entra pela espinha adentro e nos faz andar aos encontrões.
“The Clap” vai ser, provavelmente, das minhas músicas favoritas do ano. Não, não é nenhuma obra prima de literacia, não vai ganhar nenhum Pulitzer nos próximos tempos. Ela não é nada mais, nada menos, que uma música sobre… gonorreia. Ora bem, poderia formular uma interpretação metafórica acerca deste tema – o governo é a DST que nos corrói quando menos esperamos e muito mais palavreado pelo meio. Mas quem é que eu estou a enganar, é meramente uma música sobre ter relações sexuais e apanhar uma doença.
E eu não poderia pedir por mais. Tudo nesta faixa é cativante, desde as letras (simplistas sim, mas penetrantes), a métrica, o instrumental pesado e descontrolado, as palmas (inteligentes).
Estamos agora a 140 na autoestrada do Punk quando passamos pela “Identity Theft” – que pode ser usada como um guia para termos cuidado na internet, admitindo que não estava à espera de uma lição neste álbum. Os refrões são simples, contudo eficazes, nunca desiludem com a energia explosiva que os The Chats conseguem transmitir, como em “The Kids Need Guns”. Esta faixa é a mais mórbida delas todas, com referências a, provavelmente, “school shootings” causados por crianças “Little Johny and Petey”.
A 5ª faixa surge como uma leve crítica ao controlo (ou falta dele) de armas de fogo nos EUA. Claro, sempre com o ritmo e vocais quase esganiçados, à lá Sid Vicious.
The Chats são conhecidos por serem diretos. Os títulos das músicas, muito provavelmente, referem-se literalmente, ao tema em questão. “Dine N Dash” e “Pub Feed” são os exemplos que se seguem no álbum. O primeiro fala-nos sobre comer num restaurante e fugir para não pagar, o segundo é, basicamente, vontade de ir comer uma refeição ao café/bar da zona.
“Ross River” tem um início explosivo, e eu já mal sinto as mãos no volante. Com um riff que nos deixa inquietos para quando é que a festa vai começar. E não é que que começa mesmo. O final é puramente animalesco, com Eamon (vocalista principal) a gritar “-ver -ver -ver” continuamente até ao último fôlego.
Estamos agora no último pedaço da estrada. “Heatstroke” e “4573” foram duas faixas que no início me deixaram um bocado…qual é a palavra? “Eh”. Mas após as várias voltas que dei ao álbum a primeira convenceu-me que era mais uma faixa frenética neste circuito sem fim (não posso dizer o mesmo acerca da “4573”, infelizmente).
“Do What I Want” é, provavelmente, a faixa mais vindicativa das origens do Punk. “Não me digas o que fazer” é o lema e os The Chats estão aqui para gritá-lo. Uma excelente faixa de desordem, rebelião e, no geral, um “suck my dick” às autoridades (palavras deles, não minhas).
Eu já estou com os olhos a revirar para trás no meio de tanta adrenalina e instrumentais caóticos e não é que eles me espetam o carro por completo com a “Better Than You?”. Uma faixa que sela este curto, mas emblemático, álbum. The Chats mostram que o Punk, de facto, não morreu, apenas se pôs num avião e viajou para outro hemisfério.
O trio não entrou no mundo da música para causar uma revolução musical, nada de extravagâncias, nada de manias ou modas. Apenas fazem música pelo gosto (e talento!) que têm por ela. Não se levam muito a sério e é isso que eu adoro nos The Chats. Faz o que quiseres, o resto vem depois.
Artista: The Chats
Álbum: High Risk Behaviour
Data de lançamento: 27 de março de 2020
Editora: Bargain Bin Records