The New Abnormal é o mais recente álbum dos The Strokes. Sete anos depois do mal recebido Comedown Machine, somos brindados com melodias belíssimas e uma performance vocal consistentemente brilhante. Porém, é notória alguma falta de trabalho para tornar as canções mais interessantes.

Vamos deixar as coisas claras muito rapidamente. A música não tem porque ser inundada de pormenores e texturas insignificantes aquando da sua produção e gravação. E é interessante que a banda se sinta confiante nas suas composições. Além de que estamos a falar dos The Strokes e não de um projeto prog qualquer. Mas, verdade seja dita, sem as interpretações fantásticas de Julian Casablancas, acho que este projeto me seria pouco mais que indiferente.

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E convém contextualizar a minha relativa “desilusão”. Antecipava este álbum com altas expectativas. Por variados motivos. Nenhum trabalho dos The Strokes voltou a atingir o estatuto dos dois primeiros discos (especialmente o primeiro) e sete anos separam este do anterior.

Em projetos paralelos, Casablancas tem-se mostrado inovador. Participou  num dos álbuns mais marcantes da década passada: Random Access Memories, dos Daft Punk, na brilhante “Instant Crush”. Com os The Voidz, proporcionou-nos dois projetos incrivelmente arrojados com alguns momentos absolutamente geniais. Além disto, o primeiro single, “At the Door”, que nos foi dado a conhecer deste mesmo álbum (e que acabou por se revelar, de longe, a melhor música do mesmo), além de muito emotivo e intenso, fazia adivinhar um caminho diferente a ser percorrido pelos americanos. Apesar da melodia do refrão fazer lembrar, talvez em demasia, o clássico português “Intervalo” dos Per7ume, o caráter quase épico e o final transcendental e etéreo tornam a música única.

Eternal summer” é claramente desinspirada e grande demais, com aquele final estilo Tame Impala a soar completamente desnecessário. No entanto, e apesar de não ser uma canção fantástica, “The Adults Are Talking” tem um refrão lindíssimo e uma bridge fantástica, com o falsete impecável de Casablancas a roubar o protagonismo. Estes são, na verdade, dois pontos positivos e regulares ao longo do disco.

E convenhamos, este disco está repleto de melodias lindíssimas, por muito que algumas soem pouco originais. “Selfless” é uma balada onde a progressão de acordes acompanha a melodia que Casablancas entoa antes de soltar os falsetes mais bonitos do disco, conferindo-lhe um arrastamento ritmado que nos embala com doçura.

Brooklyn Bridge to Chorus” foi o último single a ser lançado, e parece mais uma canção tonta dos anos 80, que soa quase estridente. “I want new friends/ But they don’t want me/ They’re making plans/ While I watch TV”.

Segue-se-lhe “Bad Decisions”, que é assumidamente baseada numa música de Billy Idol, que é inclusive creditado como co-autor da canção, terminando trapalhona num atropelamento de frases à guitarra. “Why are Sundays So Depressing” é uma canção aborrecida, que apesar de tudo, soa limpa e imaculada, sem trazer nada de especial ao disco.

O álbum termina numa nota positiva. Com a nostálgica e psicadélica “Not The Same Anymore”, que é um bom momento e antecede uma das melhores faixas do álbum. Isto, apesar da estrutura rígida e clássica “Verso, Refrão, Verso, Refrão” com um solo desapontante de guitarra a servir como bridge e de não ser nada original.

Ode to the Mets” é um final melhor do que o que The New Abnormal merecia. A prestação vocal é super carismática e intensa. O refrão é fantástico. O primeiro “I got it all” é quase arrepiante. A outro é lindíssima e super envolvente, e termina com dois dos melhores versos do disco: “So pardon the silence that you’re hearing It’s turnin’ into a deafening, painful, shameful roar”.

No entanto, The New Abnormal não passa de um álbum razoável que ultrapassa a mediocridade em duas faixas. É carregado às costas por uma performance imaculada de Casablanca, que consegue mostrar-se emotivo e poderoso ao longo de todas as nove canções. Com meia dúzia de refrões interessantes e chamativos, dá a impressão de que podia ser muito mais e muito melhor.