A última obra da célebre escritora inglesa, Jane Austen, foi publicada postumamente, no ano de 1818. Persuasão é indiscutivelmente a mais madura obra da autora. Não falha, nem por um momento, na crítica social tão recorrente nos seus livros, muito menos nas personagens de caráter ridículo, o que seria de esperar.

Persuasão parte de um foco inicial em Sir Walter Elliot, um extravagante baronete que, em 13 anos, após a morte da esposa, coloca a família em grandes dificuldades financeiras. Vêm-se então obrigados a alugar a propriedade, em Kellynch Hall, e a adotar um estilo de vida mais modesto em Bath.

O início e o final da obra marcam talvez os momentos de maior sátira em toda a obra. Nas primeiras páginas, Sir Walter Elliot é retratado a folhear o seu “Baronetage”, a reler a sua própria história com a maior vaidade. “Herdeiro presuntivo, William Walter Ellitot, Esq. Bisneto do segundo Sir Walter”, descreve a obra.

Jane Austen, Persuasão

Jane Austen

Anne Elliot é, sem dúvida, a mais madura e bem concebida personagem do grande leque de Jane Austen. Ignorada (e em parte desprezada) pela família, encontra refúgio apenas na poesia e na sua amiga, Lady Russel. No entanto, é também através da última que a alegria, inteligência, beleza e bom senso da protagonista embatem diretamente com a facilidade de ser persuadida, como prevê o título da obra. Oito anos antes, a jovem foi levada, pela amiga, a romper o noivado com o Capitão Wentworth, por este não ter fortuna ou perspetivas de uma subida na carreira.

Tal como Anne, também as personagens que a rodeiam podem entrar da lista das melhores da autora. Sempre com um caráter satírico, espelham-se nelas as convenções e distinções de classe então vigentes. Como ficou já claro, Walter Elliot é a vaidade e o orgulho em pessoa, capaz de desprezar qualquer um que ache abaixo de si (um grande número de pessoas, portanto). Elizabeth, a filha mais velha, é a cópia exata do pai. Mary é teatral em tudo o que faz e completamente manipuladora. O mesmo sucede com Mrs. Clay, cujo propósito aparente no início da obra leva o leitor a detestá-la, só para a odiar ainda mais no desfecho da narrativa.

Jane Austen escreveu Persuasão durante a doença que, mais tarde, levou à sua morte. Esse facto levou ao que muitos dizem ser um romance mais curto e menos elaborado. Menos elaborado, nem pensar, pois a construção das personagens e da história destroem essa ideia. Mais curta, talvez. No entanto, o espectador envolve-se na sua leitura leve, sem denotar qualquer falha na escrita ou no enredo.

Persuasão é uma obra que, como não poderia deixar de ser com a autora inglesa, prende o leitor no seu belo ambiente, apenas para no fim lhe dar uma valente lição de moral. Um clássico da literatura maduro e perfeitamente concebido.