A Universidade do Minho tem cerca de 2.500 alunos estrangeiros, aos quais a reitoria garante ter “prestado uma atenção particular”, através da interação com Embaixadas e do ensino à distância.
O horizonte é infinito para os estudantes que veem no ensino uma oportunidade de conhecer o mundo. A pandemia, tal como o nome indica, não tem fronteiras. Eles também não, pelo menos até ao momento que começaram a ver o Erasmus em risco e a vivê-lo dentro de quatro paredes. O ComUM esteve à conversa com alunos minhotos que tinham previsto estudar fora este semestre, e também com estudantes estrangeiros que escolheram a Universidade do Minho como destino para o programa de mobilidade.
Segundo um estudo da Erasmus Student Network Portugal, em período de mobilidade, mais de metade dos estudantes portugueses voltaram para casa. Pelo contrário, mais de metade dos estudantes estrangeiros ficaram em Portugal.
Por conta do vírus, Susana Silva, aluna de Ciência Política, e Diego Cantu, estudante de Relações Internacionais, tiveram de optar entre interromper definitivamente o Erasmus ou voltar a Portugal, e mais tarde regressar ao país onde estavam.
Susana Silva chegou à Holanda no dia 26 de janeiro e revela que, nessa altura, não havia qualquer informação a circular sobre o coronavírus. “O ambiente que se fazia sentir na universidade era como nada se passasse. Parecia que estava a viver numa bolha em que o assunto do corona era quase como se fosse um tabu”, afirma a estudante de CP, acrescentando que a gravidade do vírus foi desvalorizada, inclusive por ela própria. Até que um dia, numa aula, “a bolha rebentou” e uma aluna de Erasmus disse ao professor que estava a pensar ir embora porque a sua universidade estava a pedir que os alunos regressassem. “Foi o início do desmoronamento de um sonho”.
No dia 15 de março, a Universidade decidiu fechar e mudar as aulas para o digital e Susana achava que ia ser tudo temporário. “Eu não reagi mal à notícia, sempre encarei a situação com otimismo e que tudo iria ficar bem brevemente. Fui ingénua”.
“A minha família começou a fazer pressão para voltar”. Por conseguinte, a realidade parecia cada vez mais dura: “Os meus amigos tinham ido embora. Estava sozinha. Todas as viagens planeadas estavam canceladas por tempo indeterminado. O tempo avançava e o número de casos era cada vez maior”. Aí Susana Silva pensou regressar, nem que fosse pelo conforto da família, porém, “desistir não estava nos planos” e escolheu ficar na Holanda.
A viver sozinha está em “isolamento total”. As aulas e o estudo ajudam a preencher os dias e as saídas são apenas idas ao supermercado e, agora, com as medidas restritivas a levantar, já dá umas caminhadas. “É claro que não está a ser fácil, mas também não está a ser um bicho de sete cabeças. Muita gente comenta que se estivesse na minha situação já teria dado em louco, mas não é bem assim. Se estivessem na mesma situação teriam que se adaptar como eu. Eu não posso fazer nada, a não ser aguentar e ir até ao fim”, remata a aluna de CP.
“Aquilo a que chamamos de verdadeira experiência Erasmus consegui vivê-la durante um mês e meio e tenho a dizer que foi incrível”. Para Susana Silva, o Erasmus baseia-se num triângulo em que há festas, viagens e estudo. A experiência é ideal quando se equilibra e aproveita todos os lados do triângulo. Estudar é a única coisa que lhe resta, porém ainda conseguiu explorar algumas cidades da Holanda.
Por sua vez, Diego Cantu, aluno de Relações Internacionais, conta que, mal aterrou na Alemanha, recebeu um telefonema do Serviço de Relações Internacionais da UMinho (SRI) a perguntar se já tinha chegado a Marburgo, pois o cancelamento oficial dos programas de mobilidade tinha sido publicado. Na nova cidade, as orientações eram “básicas” e “os espaços públicos e a própria residência universitária não tinham nada mais do que simples informações a respeito da higienização das mãos e evitar tossir e espirrar para o ar”. Entretanto, a posição da sua universidade era também “demorada e muito incerta”.
Inicialmente, pensou em ficar na casa duns tios que moram no sul da Alemanha, em Freiburg, ou então retornar para Portugal por um tempo, até que tudo voltasse a funcionar normalmente. No entanto, perante tanta indefinição, preferiu encerrar a mobilidade “e, quem sabe, caso a crise de saúde já tenha tido fim, retomá-la no último ano”.
Ao sair da Alemanha, já sentia a normalidade a escapar. “Nos meus últimos dias em Marburgo, os autocarros circulavam normalmente, porém com as portas da frente desativadas para evitar o contacto com o motorista. Os mercados rapidamente instalaram proteções nos caixas e álcool em gel para higienização na entrada e o isolamento pareceu ter sido adotado pela maioria das pessoas voluntariamente”.
Contudo, regressar a casa não foi fácil. Quando comprou o bilhete para voltar, Portugal havia recém declarado o Estado de Emergência e Diego Cantu não sabia como chegar até casa. “Os voos eram poucos e estavam com preços muito elevados e como não tinha recebido a minha bolsa da mobilidade tive de procurar ajuda para retornar entrando em contacto com a Agência Nacional de Erasmus de Portugal, com o Consulado, Embaixadas e outras instituições que poderiam possivelmente me auxiliar”, conta.
Após chegar a Portugal, entrou em contacto com os SRI da UMinho para poder ser incluído nas atividades letivas das unidades curriculares do curso. “O processo foi um bocado demorado, mas depois da permissão dada pelo Diretor de Curso de LRI, o corpo docente foi muito compreensivo e não tive problemas para reingressar nas atividades letivas”.
Há identicamente quem faça a rota contrária e veja na UM o porto de abrigo para a aventura Erasmus. De recordar que a Universidade do Minho anunciou o cancelamento das aulas presenciais a 30 de março. Aí Philine e Anil perderam as coordenadas e são, também eles, um espelho da desorientação vivida pelos alunos de mobilidade internacional.
Philine Krause, aluna alemã de educação, estava num bar quando “do nada” recebeu a notícia. Ponderou ficar em Portugal, porque “não queria desistir ou perder a esperança e era muito confortável estar em Braga”, mas a 2 de abril voltou para Alemanha.
Despedir-se dos amigos e a escassez dos voos foram os aspetos mais complicados no processo de partir. “Não consegui voar do Porto, porque os voos eram muito caros e levariam cerca de 20 horas. Então eu tive que ir para Lisboa primeiro e depois apanhar um avião para Frankfurt, que não é a minha cidade natal”, confessa Philine. Apesar de tudo, considera a temporada que passou em Braga “absolutamente incrível e bonita”.
Numa outra história, Anil Güzelmansur, aluno turco de Relações Internacionais, permanece em Braga. Por um lado, “isto é uma pandemia, não é importante o país em que estás, o importante é ficar num lugar estável” e, por outro, “apanhar um voo e voltar ao meu país parece-me um pouco perigoso porque um aeroporto e um avião são lugares fáceis de apanhar ou espalhar o vírus”.
Para Anil, a Universidade fechar portas não foi “surpreendente”, mas sim a atitude mais responsável. Nos primeiros meses, estava “em choque” por tudo parecer tão “surreal” e limitava-se a queimar tempo. Depois resolveu começar a pintar, a cozinhar, a ver Netflix, a ler, a passear, deixando o dia “correr naturalmente”, sem nunca delinear horários. Do mesmo modo, elogia o trabalho de acompanhamento da Erasmus Student Network (ESN).
Em conversa com a ESN Minho, mencionam que a atividade passa, presentemente, por dois objetivos. Um deles é comunicar de forma clara o estado da situação em Portugal, sendo que sempre que sai uma notícia relevante, transmitem essa informação aos Erasmus. O segundo objetivo passa por tentar manter o espírito de Erasmus vivo, com eventos semanais, como por exemplo, Party and Game Night, Book Club e Countries Night, e vários desafios ou rubricas no Instagram.
Aos olhos de Anil, fazer Erasmus e deparar-se com este panorama é “a experiência mais única que um estudante de Erasmus pode experimentar”. Aqueles que ficaram em Braga, tornaram-se uma família. “Claro que estou muito triste por todas as oportunidades que perdemos, mas ganhei pessoas incríveis nos momentos mais difíceis. Os que estão contigo em tempos difíceis ficam lá para sempre, então eu tenho muita sorte”.
Alunos internacionais reivindicam redução do valor das propinas
Ao contrário de Anil e Philine, Giovana Pergentino e Taynã Noschese estiveram sempre pela academia minhota. Similarmente, sentiram o abalar do mapa com o cancelamento das aulas presenciais e, num culminar de fatores, pedem a redução do valor das propinas.
Considerando a experiência na UM como “espetacular”, Taynã Noschese, estudante de Criminologia e Justiça Criminal, na descrença da reabertura da universidade, foi para Lisboa ter com o pai. Já Giovana Pergentino, aluna de Ciências da Comunicação, recorda que a situação evoluiu de uma forma tão rápida que ninguém estava à espera de receber essa notícia. “De repente, vi-me sozinha em Braga já que todos os meus amigos acabaram por retornar para as suas terras”.
Apesar de julgar que seria tudo momentâneo, “seria muito difícil viver este período todo sozinha e longe da minha família”. Explicou a situação aos pais e estes insistiram para voltar ao Brasil e, nessa mesma hora, comprou o voo.
“Quando saí de casa para ir para o aeroporto, levei um choque de realidade. Naquele momento, percebi que o mundo não era mais o mesmo. As ruas estavam totalmente silenciosas e foi muito estranho ver tantas pessoas de máscaras e com olhares desconfiados”. Do início ao fim, a estudante de CC caracteriza a viagem até ao Brasil como um “pesadelo”. A rota foi Porto-Madrid-Salvador e, ainda na cidade Invicta, encontrava-se cheia de medo. “Ouvia anúncios nos alto-falantes a dizer que alguns países estavam a fechar fronteiras e pensei que não conseguiria chegar ao Brasil”.
Acompanhar o ensino à distância a partir do Brasil é “difícil” devido ao fuso horário. Com uma diferença de quatro horas entre os países, Giovana tem as aulas às cinco ou seis da manhã. No entanto, os professores sabem e compreendem a circunstância, e alguns gravam as aulas. “Entendo perfeitamente que os docentes tiveram de arranjar soluções eficientes, mas não acho justo receber esse tipo de ensino e continuar a pagar propinas de 560€”, finaliza a aluna de Ciências da Comunicação.
Pegando no tópico das propinas e voltando a Taynã, o mesmo declara que se tem esforçado para contactar a reitoria numa tentativa de abordar a redução do valor das propinas. Porém, o órgão em questão não se demonstrou “preocupado”. “Por muitas vezes respondem aos alunos com e-mails automatizados, o que de fato, não só evidencia a negligência, como também a falta de cordialidade e compromisso com os estudantes”, assegura.
E esse ponto de vista é partilhado pela generalidade dos alunos internacionais por conta de inúmeros motivos, nomeadamente, as quantias acrescidas de residir noutro continente. “Soma-se custos de deslocação para um outro continente, documentações caríssimas, arrendamento, que algumas vezes é cobrado mais para estrangeiros, e a diferença de câmbio, que atualmente se encontra 6 por 1” (1€ = aprox. R$6,00), salienta.
Enquanto que nos últimos dois anos as propinas para os estudantes nacionais têm descido de valor, para os alunos internacionais tem-se mantido sempre muito elevado.*
Taynã é o fundador da associação de estudantes de Criminologia e, por isso, apela aos alunos internacionais que “estudem os diplomas legais, os acordos e os estatutos regulamentares para que conheçam os seus direitos e que estejam a exigi-los na justiça, caso se sintam no direito de tal”. Realça ainda que a Universidade deve cumprir “com o seu papel de escutar e se mobilizar para respeitar os mesmos tratados [Tratado da CPLP] que tantas outras universidades em Portugal respeitam”.
No que lhe diz respeito, a reitoria afirma que “a UMinho entende, em linha com as posições que vem sendo assumidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, que não há razão, pelos motivos antes indicados, para alterar o quadro em vigor na Instituição”.
Num contexto sem precedentes, novas questões impuseram-se. O regresso à normalidade parece estar mais próximo não só em Portugal como em todo o mundo. Todavia, o ensino tradicional, com salas e corredores cheios, está extinto este ano letivo para todos os alunos, estrangeiros e não estrangeiros.
*Os valores da propina para alunos internacionais variam consoante o curso e instituição em causa.
Maio 27, 2020
Tenho uma filha de 11 anos estava com muito medo do que ela acessava na internet então instalei o Bruno Espião, e descobri tudo que ela estava fazendo no celular e também consigo saber onde esta o tempo todo é o bom que é tudo em tempo real é muito bom recomendo.