“Lingo, Lingo”. Milagre Na Cela 7 está longe de ser uma produção que me encha as medidas, mas fez sem dúvida parte de um dos belos serões passados sentada no sofá neste período de isolamento social. E, sim, admito que uma lágrima invadiu o meu olho durante o visionamento do filme.

Apesar de ter sido lançado no final de 2019, a fama da trama demorou a chegar. Podemos quase garantir que se a Netflix não tivesse garantido o formato turco, 99% de nós nunca iria ver e falar deste fenómeno da plataforma de streaming. No entanto, o argumento não é, de todo, inédito. Mehmet Ada Öztekin adaptou um original sul-coreano às raízes e costumes da Turquia.

Milagre na Cela 7

A história de Memo e Ova entra nos pequenos ecrãs de todo o mundo para tentar sugar todas as lágrimas possíveis. Além da relação de pai e filha, a pobreza e a falta de tolerância de um país cheio de vícios e mergulhado numa ditadura tentam dar um contexto histórico do país, que se assemelha bastante à realidade atual.

Os sentimentos exacerbados acompanham-nos do início ao fim de Milagre na Cela 7. Quem está habituado à fórmula americana, fica admirado com tanto drama e sofrimento que ocorre em diferentes partes. Trata-se, na verdade, de uma das maiores marcas do cinema oriental, onde a sentimentalidade tenta ofuscar a qualidade de produções de pouco orçamento.

A fotografia demonstra contrastes constantes. Nos momentos de alegria, a longa-metragem transmite ao telespectador cores vibrantes dos pastos e das belas paisagens turcas. No lado oposto, aquando da detenção injusta de Memo, o preto e o branco assumem a liderança, na esperança de mudar drasticamente o estado de espírito de quem está a ver.

Milagre na Cela 7

Outros elementos que nos saltam rapidamente à vista e ao ouvido são a banda sonora constante e a sobredosagem de planos em câmara lenta. A isso, o filme tenta acrescentar um cliché a cada minuto que passa e, quando pensamos que vamos ter uma cena mais natural, o impossível acontece e soa bastante artificial.

No final das contas, Milagre na Cela 7 é uma produção que, como todas as outras, não vai agradar a toda a gente e, por ser tão badalada, chovem críticas sem muito fundamento. Há espaço para todos os tipos de filme, e não podemos fechar os olhos à diferença, que curiosamente é uma das maiores lições que aprendemos durante as duas horas que prendem ao ecrã.