Cerca de 53% dos alunos estão satisfeitos com a solução encontrada pela instituição que frequentam. Mesmo assim, 60% considera o ensino à distância desfavorável.
As salas da universidade estão vazias e em silêncio, os estudantes habituam-se ao som das teclas do computador e a ver os docentes através de um ecrã. Margarida Marujo, presidente da Associação de Estudantes de Moda da UMinho, não considera “uma solução viável regressar ao estabelecimento de ensino”. Contudo, há Unidades Curriculares práticas que foram prejudicadas com o fecho de portas da Universidade do Minho. Cerca de 59,4% estudantes veem o ensino à distância como uma situação globalmente desfavorável, segundo o estudo do Observatório de Políticas de Educação e Formação.
A maioria dos cursos foi-se adaptando a este novo método de ensino, mas outros enfrentam um enorme desafio. Enquanto que uma aula teórica é facilmente lecionada através das plataformas online, Unidades Curriculares cuja componente prática é superior tornaram-se extremamente difíceis de orientar. O cancelamento dos estágios, as faltas de acesso às oficinas, aos laboratórios e aos seus materiais, deixam os alunos em desvantagem e comprometem a sua aprendizagem.
É o caso dos alunos de Medicina. Viram os seus estágios anulados do 3º ao 6º ano, dado o risco de contágio que poderiam ter se os frequentassem. No entanto, José Soares, presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da UMinho (NEMUM), alega que “constituindo uma forte componente da formação e até mesmo da avaliação e sendo imprescindível para o futuro, a Escola de Medicina já garantiu que os estágios perdidos serão compensados nos próximos anos letivos”.
Do outro lado, encontram-se os professores que enfrentam uma situação nunca antes imaginada. Além de terem que repensar toda a metodologia e estratégias de aprendizagem e de avaliação, os docentes estão ainda a participar numa formação promovida pelo IDEA – Minho, de forma a adquirirem competências no uso das ferramentas disponíveis para o ensino, bem como modalidades de avaliação a distância. “Todas as aulas estão a ser preparadas de forma adequada às novas funcionalidades, o que representa para os docentes um esforço acrescido.”, informa Maria Manuela Machado, diretora do curso de Enfermagem.
Apesar dos esforços feitos pelos docentes em manter os métodos de avaliação, estes tiveram de ser alterados face aos meios disponíveis. As Unidades Curriculares previamente conhecidas por permitirem os estudantes pôr as mãos na massa e obterem resultados experimentalmente, foram substituídas por aulas dinamizadas ou “teórico-práticas”. Apresentações e relatórios continuam a ser entregues, mas os alunos, muitas vezes sobrecarregados, temem que a avaliação possa ser injusta ou prejudicial.
João Abreu, presidente do Núcleo de Alunos de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho (NAMecUM) apela aos alunos para que “tentem ser mais compreensivos com os novos métodos de avaliação” e aos professores, que “tentem ser o mais flexíveis que conseguirem”. “Sabemos que a fraude nas avaliações é uma realidade, mas muitas vezes métodos inexequíveis são pedidos aos alunos para evitar isto”, reforça.
O estudo do Observatório de Políticas de Educação e Formação apresenta uma amostra de 860 estudantes. Dentro das respostas, 59,4% consideram a sua situação globalmente desfavorável, e 14,8% globalmente favorável. Os restantes classificaram-na como nem favorável, nem desfavorável. A adaptação à nova realidade por parte dos professores foi alvo de avaliação no estudo. No total, 34% alunos entendem que os seus docentes estão bem preparados para o ensino à distância.
Também Catarina Costa, estudante de Enfermagem, afirma que a alternativa encontrada pelos professores foi a reformulação do plano de estudos. “Adiantamos as Unidades Curriculares teóricas dos anos seguintes que começaram a ser lecionadas virtualmente”. A presidente da Associação de Estudantes de Enfermagem acrescenta que as UC’s práticas foram adiadas e só retomarão “quando o regresso às instituições que acolhem durante os Ensinos Clínicos for possível.”
Depois de António Costa anunciar o programa de “desconfinamento” no final do estado de emergência, que vigora até 2 de maio, universidades de todo o país reavaliaram os seus planos para o levantamento progressivo das medidas de contenção. Rui Vieira de Castro, reitor da Universidade do Minho, já tinha admitido que não haveria aulas presenciais no presente ano letivo, no entanto, existe agora a possibilidade de retomar as aulas ou avaliações para cursos e Unidades Curriculares específicas. Embora uma nova esperança cresça nos estudantes que sonham em voltar às interações sociais e à antiga rotina, o medo do contágio está ainda presente em todos.
Com as atividades presenciais canceladas há mais de um mês em termos nacionais, mais de metade dos estudantes estão satisfeitos com a solução apresentada pela instituição que frequentam. No caso da Universidade do Minho, o Campus de Gualtar encerrou no dia 7 de março e o de Azurém e dos Couros, três dias depois, no dia 10.
Um possível regresso à vida do campus é, então, posto de lado. Margarida Marujo, presidente da AEMODUM, não considera “uma solução viável regressar ao estabelecimento de ensino” uma vez que “há pessoas dentro dos grupos de risco que não querem colocar-se em perigo”. Salienta ainda que “vários alunos cancelaram os contratos de arrendamentos e voltaram para as suas cidades de origem, como é o caso de alunos do Brasil”.
O presidente do NAMecUM, João Abreu, evidencia também que, “apesar da universidade apresentar boas condições, não se encontra preparada para colocar as turmas numa sala mantendo o distanciamento de segurança”, além disso, “voltar a mudar tudo atrasaria o ano letivo.”
Também os laboratórios impedem que a distância recomendada seja cumprida. Maria Manuela Machado relembra que a Escola de Enfermagem tem apenas dois laboratórios pequenos e que, para manter a segurança, poderiam apenas estar seis alunos em cada. Este método seria inexequível uma vez que cada turma tem, aproximadamente, 100 alunos. “Retomar as aulas de prática laboratorial poderia ser uma vantagem do regresso à universidade se os laboratórios reunissem as condições necessárias para garantir a segurança dos estudantes, docentes e pessoal de apoio não docente, o que não se verifica”.
Em contrapartida, para José Soares, o regresso ao ensino presencial seria vantajoso para os estudantes. “As aulas práticas seriam uma mais valia para aprender e treinar conhecimentos clínicos e laboratoriais, uma vez que essas atividades letivas não são possíveis de replicar à distância”, diz o presidente do NEMUM, realçando que as avaliações presenciais permitiriam uma “avaliação dentro da normalidade.”
A ideia de José Soares é refletida nos 70% de estudantes que voltariam para as atividades presenciais já amanhã, se fosse possível.
Vulneráveis a esta situação, e apesar das alternativas adotadas não serem as ideais, os alunos consideram que, tendo em conta as circunstâncias, não existiriam outras opções. “Neste momento o melhor é aquilo que resulta bem para cada um”, alerta a presidente da AEMODUM. “Acima de tudo, nunca prejudicar os alunos e ter sempre em conta a condição de cada um, não generalizando toda uma comunidade académica, mas sim, avaliando casos especiais.”
Sem uma data para o fim da pandemia, os alunos tentam arranjar respostas para as suas perguntas e expõem o seu descontentamento e preocupações aos presidentes dos seus núcleos ou associações, que os tentam ajudar da melhor maneira possível. O NAMecUM criou um Conselho de Alunos que tem o objetivo de analisar e solucionar todos os problemas dos alunos do curso, assumindo assim, uma posição de “ponte” entre o estudante e as entidades.
A presidente da AEEUM, Catarina Costa confessa que também ela já recebeu várias queixas. “Quando vimos os nossos Ensinos Clínicos suspensos, foi assustador pensar que isto poderia atrasar a conclusão dos diferentes ciclos de estudos. Neste momento, a maior preocupação recai sobre os finalistas, que aguardam ser acolhidos pelas instituições de saúde para que possam terminar o Estágio de Integração à Vida Profissional, que determina o término da licenciatura em Enfermagem.”
O ensino à distância veio a revelar problemas ao nível do acesso a equipamentos informáticos e internet. No estudo do OP.EDU cerca de 75% dos alunos admite ter boas ou ótimas condições para assistir e cumprir com as tarefas das aulas. No entanto, o facto de o questionário ter sido disponibilizado online não abrange os alunos sem acesso à internet. Apenas aproximadamente 6% dos alunos confessam ter más ou péssimas condições para concretizar o ensino não presencial.
Num contexto sem precedentes, toda a comunidade académica teve de se adaptar. Contudo, o regresso às rotinas é algo que começa a parecer mais próximo. Os alunos na Universidade do Minho aguardam agora pela decisão do Governo de voltar gradualmente às aulas presenciais.
Multimédia: Mariana Pinto Fernandes