Praticamente todas as bandas de Seattle encontram um fim precoce, resultado da morte dos seus vocalistas. No entanto, Pearl Jam foge à norma e, quase trinta anos depois, continuam invictos.
Depois do lançamento de Ten, a magna opus da banda, em 1991, todos os trabalhos seguintes estavam destinados a manter o nível ou até superá-lo. Ten surge como um dos maiores álbuns do Rock, resultante da vontade de adolescentes descontentes de se imporem. É também daí que surgem os maiores temas da banda, como “Even Flow”, “Alive”, “Black” e a polémica “Jeremy”. Assim, foi difícil para os álbuns seguintes apresentarem temas tão marcantes como os de Ten.
Em março de 2020, Pearl Jam apresentam o décimo primeiro álbum, Gigaton, que surge em plena pandemia. Com 57 minutos, é o álbum mais longo que a banda já produziu e, ao mesmo tempo, o que mais demorou a ser produzido. É um disco feito ao longo de vários anos, que varia entre baladas poéticas que nos acalmam o espírito e malhas de Rock puro que nos deixam o sangue a ferver. Gigaton não soa a uma banda com trinta anos a tentar ser o que foi, soa àquilo que nunca deixaram de ser, agora com outras preocupações.
O álbum abre com “Whoever said” e termina com “River Cross” . Pelo meio encontramos “Superblood Woflmoon”, “Dance of the Clayrvoiants”, “Quick Escape”, “Alright”, “Seven O’ Clock”, “Never destination”,” Take the Long Way”, “Buckle Up”, “Comes the Goes” e “Retrograde”.
“Whoever said” causa uma excelente primeira impressão, com uma melodia cativante e um refrão extremamente memorável “Whoever said it’s all been said/ Give up on satisfaction”. “Superblood Woflmoon” foi lançada de uma maneira muito pouco convencional, daí merecer o reconhecimento: a música só poderia ser ouvida utilizando um site que tocava Superblood Wolfmoon se a camara do telemóvel fosse apontada para a lua. À parte desta curiosidade, é uma faixa pouco cativante, mas agradável de se ouvir.
“Dance of the Clayrvoiants” foi o primeiro single do álbum e é, com certeza, das melhores faixas deste projeto. Um baixo que corta pela mistura dos instrumentos e guitarras Funk estridentes enchem quem as ouve com uma súbita vontade de dançar. Foi a tentativa perfeita da banda de recriar o estilo de Talking Heads sem perder a sua sonoridade própria.
“ Seven O’ Clock” a par de “Dance of the Clayrvoiants”, afirma-se como uma das músicas mais memoráveis deste álbum. Uma balada tranquilizante que nos embala ao longo de seis minutos. Versos como “Sitting bull and crazy horse come forged the north and west/ Then there’s sitting bullshit as our sitting president” (Sitting Bull e Crazy Horse sendo nomes de líderes Nativo-Americanos) atacam o atual presidente dos EUA.
“Quick Escape” é também uma forte crítica política, onde Eddie Vedder fantasia correr o mundo à procura de um sitio para onde possa fugir de Trump “The lengths we had to go to then/ To find a place Trump hadn’t fucked up yet”. “Alright” é um tema perfeito para ouvir durante esta quarenta. Relembra-nos que é normal sentirmo-nos arrebatados pelo estado atual do mundo e que é importante ter tempo para nos próprios “It’s Alright to sut it down/ Disappear in thin air, its your home´/ It’s Alright to be alone”.
Se Gigaton tem o potencial de superar Ten? Não. Mas é com certeza um excelente álbum e dos melhores da banda. Repleto de temas extasiantes e da poesia fascinante de Eddie Vedder, é um álbum que não pode, de maneira nenhuma, passar despercebido.