Muitos concertos e DJs sets foram cancelados e os rendimentos dos artistas limitados. O cenário é de negatividade entre os músicos.
A pandemia de Covid-19 está a abalar os vários setores económicos e a cultura não é exceção. As conclusões preliminares de um estudo liderado pela Universidade do Minho sobre o impacto da crise sanitária na cultura revela que as organizações e profissionais deste setor estão agora numa “situação dramática”. Segundos os dados da Fundação GDA, dois terços dos espetáculos cancelados são de música. Os artistas queixam-se da falta de apoios à atividade.
O Governo confirmou que até 30 de setembro estão proibidos todos os festivais de verão. Em contrapartida, os espaços culturais reabrem no próximo dia 1 de junho, na data estipulada para a terceira fase de desconfinamento. Depois de quase três meses parados, os artistas nacionais sentem falta de um sistema de apoio financeiro igualitário na comunidade. Diogo Agapito, músico e produtor, fala sobre a realidade dos artistas locais: “O rendimento baixou drasticamente” e, enquanto trabalhador independente, “não havendo serviços para prestar, não há dinheiro a entrar”.
Em tempos extraordinários, todas as oportunidades de negócio são importantes. As aulas de música por videochamada garantem alguma receita tanto a Diogo como a José Carlos Mãozinhas. Apesar do inevitável prejuízo, a situação permite que não dependam de apoios do Estado, “que por sinal são miseráveis para os artistas”.
O mesmo estudo da Fundação GDA indica que, “por cada espetáculo cancelado, ficaram sem rendimento, em média, 18 artistas, 1,3 profissionais de produção e 2,5 técnicos”. Xannce também é artista. Revela que “começava a ter algumas atuações em bares” a partir de abril, mas, com a pandemia e o despedimento do local onde trabalhava, não vê “nenhuma hipótese de conseguir ganhar algum dinheiro” nos próximos tempos.
As rotinas profissionais mudaram e obrigaram a uma readaptação, que é encarada de diferentes formas. Se para Ferna, vocalista das bandas Ângela Polícia e Bed Legs, “estar vivo já é o suficiente para criar”, há quem não seja tão otimista. O músico José Carlos Mãozinhas vê a composição como “algo mais espiritual”, no qual o cansaço e a desmotivação não são os maiores aliados. David Mourão, saxofonista, sente falta do “ambiente citadino, do contacto e da alegria que transparece quando se é músico de rua”, para não falar dos donativos de transeuntes e fãs, que acabavam por fazer a diferença. Sem as emoções e as experiências diárias, “todos os dias parecem iguais”, desabafa Mãozinhas.
Atualmente, as redes sociais são o meio predileto de divulgação cultural. Apesar de ser adepto das plataformas digitais, Diogo Agapito teme que “haja uma descida abrupta na exigência das pessoas em relação à música e conteúdos audiovisuais”, gerando-se uma aceitação geral de gravações através de um telemóvel e que os estúdios fiquem sem trabalho. Susana Silva, artista de rua, alerta para o facto de que nem toda a gente pode fazer concertos online e ganhar dinheiro com doações: “Como é que um [artista] estátua faz a vida na net? Não faz”.
Para ajudar os artistas durante esta fase de precariedade, o Ministério da Cultura lançou, em março, a Linha de Apoio de Emergência ao Setor das Artes, destinada a ajudar artistas e espaços culturais em situação vulnerável. O plano contava com o apoio de um milhão de euros, mais tarde reforçado com mais 700 mil. O Ministério revelou que foram recebidas 1025 candidaturas, mas apenas 636 destas foram consideradas elegíveis para receber o financiamento. Contas feitas e candidaturas fechadas, a Ministra confirmou que foi garantido o apoio a “75% dos projetos identificados como primeira prioridade”.
Em Braga, a Câmara Municipal anunciou esta semana um programa de apoio a 45 artistas locais das áreas da música, das artes performativas e das artes plásticas e visuais. A ACTUM – Convocatória Aberta de Projetos Artísticos 2020 tem candidaturas abertas até 12 de junho e a vereadora da Cultura, Lídia Dias, caracteriza o plano como “um incentivo para a continuação do dinamismo cultural”. Já em Guimarães, a Câmara Municipal anunciou um plano de ação para ajudar o setor da cultura no concelho.