Spenser Confidential estreou em março e, com ele, surge uma ação desleixada com pingos de comédia forçada. Porém, o filme apresenta-se bem como uma longa-metragem para um domingo à tarde, quando não queremos pensar muito, nem ser ensopados por obras cinematográficas que nos fazem questionar a vida.

Spenser, um antigo polícia, sai da prisão com um sonho: ser motorista. Contudo, graças ao seu instinto policial, não consegue ficar parado quando se apercebe que toda a sua terra natal é governada por um conjunto de polícias corruptos. Como tal, parte para uma investigação ilegal com Hawk e Henry, com quem partilha casa e trabalha.

Spenser Confidential

Spenser Confidential dá indícios de ser um bom filme, mas à medida que os acontecimentos se vão desenvolvendo, o espectador é abalroado por uma desilusão. O mistério capta a nossa atenção e projeta-nos para um enigma que também nós queremos solucionar. No entanto, resolve-se rapidamente e despacha-nos como crianças, emaranhamo-nos numa intriga cativante e depois somos cuspidos desta apressadamente. A resolução precipita-se e não deixa o espectador apreciar e cismar sobre o problema. A produção mostra-nos o que queremos, expõe o que desejamos e, quando estamos quase a atingi-lo, escapa-nos.

Queremos tanto esmiuçar e tirar algum proveito da história que a banda sonora nos escapa. Somos alertados para esta no início, mas esquecemo-nos de lhe prestar atenção.

As cenas mais dinâmicas são embebidas por cores mais fortes e por um cinismo engraçado. Por causa disto, até exprimimos umas gargalhadas soltas, mas nada que compense o enredo no seu todo. O cómico tende, neste caso, a abraçar a ação como se fosse um emplastro ou um amigo de quem esta não gosta muito. Na maior parte das vezes, está deslocado, a mais, mal posicionado ou fraco.

Spenser Confidential

Mark Wahlberg assume a representação do protagonista. Depois de Família Instantânea (2018), o espectador espera mais do ator. Esta personagem assenta-lhe bem, mas o cómico que lhe é normal desnivela a ação. Conhecemo-lo pela sua forma de estar habitual nos filmes, que na verdade parece sempre a mesma. No entanto, aquilo que queríamos mais nesta longa-metragem era o seu espírito aguerrido, para nivelar o mistério às nossas expectativas.

Tanto Alan Arkin como Winston Duke apresentam personagens levezinhas e frouxas, mas conferem à narrativa mais complexidade. Hawk e Henry, respetivamente, são peõs usados para ajudar a decifrar o problema e para apaziguar o mistério. Introduzem ainda comentários formosos e conflitos amistosos. Ainda assim, nada a fazer.

Spenser Confidential pronuncia-se, mas morre na praia. Impede-se de atingir um clímax interessante e dificulta-nos uma apreciação máxima daquilo que poderia ser um policial bom.