Valéria foi a mais recente série espanhola a chegar à Netflix. A produção arejada e colorida dá-nos a conhecer Valéria e as suas amigas, os seus amores e os seus problemas, numa teia de acontecimentos ora bem conseguida, ora um pouco forçada.

No dia 8 de maio, chegou à Netflix uma nova série espanhola: Valéria. Esta série é sobre a rapariga que lhe dá o nome, uma jovem de 28 anos, interpretada por Diana Goméz, que não se encontra numa fase fácil da vida. Vive em Madrid com o seu marido, Adrián (Ibrahim Al Shami), com quem está, de momento, a viver uma crise. Sonha desde sempre ser escritora, contudo, vive quase constantemente num bloqueio e, quando finalmente consegue escrever, não arranja quem queira publicar a sua obra.

Valéria

Para dar um pouco de cor à sua vida, a protagonista junta-se diariamente às suas três melhores amigas, cada uma também com os seus problemas de quem julgava aos 30 já ter estabilidade em todos os aspetos. Para melhorar toda a trama, e como se já não fosse demasiada informação para assimilar numa série de oito episódios de 40 minutos cada, juntamos Vitor (Maxi iglesias) à equação. O personagem, que surge por intermédio de Lola, vem trazer ainda mais instabilidade à vida da protagonista, principalmente ao seu casamento.

Valéria, que tem vindo a ser comparada com O Sexo e a Cidade, tem alguns temas bastante interessantes e acaba por nos relembrar que existem tópicos sérios sobre os quais é possível ter uma abordagem mais relaxada. Gostei bastante da forma como fazem alusão à ilusão comum de que aos 30 toda a gente tem a sua vida estável e organizada em todos os aspetos. Os bloqueios criativos e as razões que os podem causar, o que a monotonia pode fazer a uma relação e a imperfeição real das amizades, que muitas vezes se oculta, foram temas muito bem escolhidos e bem abordados.

No entanto, a certa altura, ficamos com a sensação de que os argumentistas foram pesquisar uma lista de tópicos polémicos e cliché e, não se decidindo por nenhum, atiraram para lá todos. Tudo está presente: LGBTQ, empoderamento feminino, infidelidade, aplicações de encontros, poligamia, relações abertas e até a rivalidade entre taxistas e condutores da Uber. Sublinho que não tenho nada contra uma produção abordar um destes temas. Contudo, sendo a série pequena, espero ver mais desenvolvimento do enredo e acho que não há propriamente tempo para um ativismo tão acérrimo de todas as causas do mundo, torna-se aborrecido.

Valéria

Geralmente, os episódios de Valéria acabam com um cliff-hanger, o que, alicerçado ao tamanho da série, ajuda a que se veja rapidamente. Contudo, apesar da curiosidade deixada no final, algumas situações são bastante previsíveis e algumas já foram vistas noutras produções. É também importante referir os planos amplos e os cenários luminosos e coloridos tão bem escolhidos e que dão um toque especial. Porém, no momento seguinte, se a situação assim o pedir, já somos presenteados com tons muito mais escuros. E não esqueçamos a beleza que Madrid tem por si só.

Quanto ao elenco, confesso que gosto de ver séries em que não conheça os atores pois, por vezes, ajuda na nossa absorção na estória. No entanto, desde início que a protagonista me era familiar. Só depois de terminar a temporada é que descobri que Diana Goméz, a protagonista, é também Tatiana, a mulher de Berlim em La Casa de Papel. Desconhecia os restantes atores, à exceção de Maxi Inglesias, de Físico-Química (2008-2011).

No geral, gostei bastante da performance de todos os atores. Acho que o erro está no argumento, principalmente no facto de dar atitudes a certas personagens muito contraditórias, face ao que conhecíamos da sua personalidade até ali, o que pode dificultar algum trabalho.

Valéria, que pelo desfecho terá, pelo menos, mais uma temporada, é uma série divertida, colorida e que aborda temas bastante interessantes. Apesar do argumento não ser o mais fácil de digerir, a sua curta duração faz-me crer que me aventuro pela segunda temporada, que julgo ter margem para correr melhor.