A situação inédita que se vive no panorama mundial fechou milhões de pessoas em casa. Inúmeras atividades foram canceladas, inclusive os concertos e outros festivais de música. Isto também empurrou os artistas para uma realidade com a qual não estavam muito habituados. Semanas em casa, onde o único contacto possível com os fãs é através das redes sociais.

Para tentar serem produtivos nesta altura, vários artistas arriscaram pequenos projetos musicais. Não significando grandes investimentos em tempo e em produção, serviram para se manterem ativos e para continuarem a “alimentar” os seus públicos com música.

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Os Wet Bed Gang representam um exemplo desta situação. O álbum anunciado para este ano continua bem guardado, no entanto o grupo lançou o EP Stay Inside. Como o nome indica, este projeto pode ser visto como o contributo do grupo para o incentivo geral para que as pessoas fiquem em casa. Pode não ser muito, mas enquanto estamos em casa a ouvir música não estamos na rua a colocar vidas em risco.

No dia 30 de abril os “Filhos do Rossi” lançaram 3 músicas – que provavelmente estavam guardadas na gaveta – às quais se junta uma outra lançada duas semanas antes. Há ainda indicação de uma quinta faixa que completa este projeto mas o grupo deixou essa questão permanecer uma incógnita.

A primeira música da lista tem o nome de “Popcorn” e é possivelmente a melhor. É uma música bastante calma, ainda que com uma batida presente e inevitável nas obras deste grupo.

Zizzy Jr ficou encarregue do refrão e deu o melhor de si ao tema. A voz encaixou perfeitamente neste registo mais calmo e lançou Zara G para um verso muito bom. O jovem é muito associado a um estilo de Hip-Hop com muita mais energia, tendo por exemplo o tema a solo “Chaminé”. No entanto, Zara mostra aqui uma vez mais a sua versatilidade.

A música fala da regularidade com que os membros são abordados atualmente, ao contrário do que acontecia em tempos mais recuados, ausentes de fama e dos seus consequentes. GSon dá sempre uma nova energia quando chega a sua parte da música e, neste tema, o seu verso muito “cantado” funcionou muito bem com o refrão de Zizzy. Uma boa música.

Segue-se “Inveja”. O EP parece seguir um crescendo quanto à energia transmitida pelas faixas e esta segunda já convida a um ligeiro balançar enquanto se ouve. Kroa entra muito bem no tema. O vocabulário bastante descritivo em cenas íntimas e o uso constante de expressões em inglês envolvem os ouvintes com a sua voz. Gson ficou encarregue do refrão e não desiludiu.

A magia de Zara G também surge neste tema. O rapper pode não ser um dos melhores no que toca a contar histórias ou na procura das melhores rimas mas a voz, com ou sem “pozinhos mágicos” transmite uma energia muito boa e esse é um dos principais objetivos da música, se não o principal. Zizzy “fechou” a música muito bem.

Há quanto tempo não ouvíamos um refrão do Zara G? “Hat-Trick” veio para saciar essas saudades. O “mais novo sem juízo” elevou a fasquia para o resto da música com o seu refrão seguido do verso bem característico. Sempre num tom bem elevado, com uma letra sempre muito visual e “chocante”. Bem ao estilo Zara G.

Para contrastar surge Zizzy. O rapper baixou o ritmo da música nesta ponte para o verso seguinte de uma forma perfeita. Kroa e GSon encarregaram-se dos restantes versos do tema. “Hat-Trick” é a música com mais energia neste EP e é completamente viciante.

Este EP teve ainda espaço para que Gson brilhasse a solo. O tema “Farda” representa um dos ambientes onde o rapper se sente mais à vontade. Uma música calma, “love song” com um instrumental bastante discreto. Isto porque o talento de GSon preenche muito espaço na música. O refrão é simples mas apelativo. Permite que quem ouve mergulhe no ambiente sobre o qual o rapper fala.

Então surge o primeiro verso e a lírica e flow de Gson combinam de uma forma impressionante. Este flow acelerado com os trocadilhos e jogos de palavras são a imagem de marca do rapper e por muito que os use nunca esgotam. Para além dessa capacidade lírica impressionante ainda há a vertente vocal do artista. Dono de uma voz agradável, consegue conjugar várias vertentes que o levam a ser um artista bastante versátil.

A existência de uma quinta faixa continua uma incógnita. As quatro que ouvimos não surpreendem quem já conhece o grupo. Apenas reforçam a presença dos Wet Bed Gang no panorama atual e futuro do Hip-Hop português. Resta-nos seguir o conselho Stay Inside e aguardar pelo ansiado álbum.