A Floresta é um conto da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen. Não é exclusivamente um só conto, mas um daqueles que irá ficar na memória pelas lições, clareza e genuinidade. Uma pequena história de enriquecimento pessoal e de deslumbramento pela escrita portuguesa.

O livro traz-nos um rodízio de histórias emaranhadas numa única. À primeira vista, é uma história de anões que não envolve qualquer Branca de Neve, mas que traz à baila uma Isabelinha. Através de um olhar mais atento, essa mesma narrativa apresenta a vida de um anão em particular, misturada com a de uns quantos frades, com as caças de uns tais caçadores e com os tesouros de alguns ladrões.

Quem diria, um conto de histórias. Nesta mescla, parece-nos difícil acompanhar o conto. Contudo, a moral que nos é trazida é de tal modo elucidativa que acabamos por desejar tê-lo lido mais cedo.

Sophia de Mello Breyner A Floresta

DR

De um modo mais simplista, Isabel é uma menina que não acredita em anões, até que se depara com um. Com este novo amiguinho, surgem-lhe sonhos, certezas, uma nova realidade e uma arroba de histórias. Aquilo que parece surpreender o leitor, para além da narrativa, é a forma simplista como a história é contada. A par desta simplicidade, esta apresenta enorme significância. Aquilo que ousamos ponderar passa a ser: “como tamanho livro pode estar tão preenchido de saberes tão grandes?”.

De Sophia de Mello Breyner Andresen, parece que sabemos muito e, sobre as suas obras, parece que sabemos ainda mais. No entanto, ao debruçamo-nos sobre os seus contos e histórias, espantamo-nos com a qualidade da sua escrita.

A Floresta expõe o melhor da escritora e faz-nos louvar os autores portugueses. Não é uma obra de muitas palavras, ou até mesmo de muitas páginas, mas é um livro de muitíssima autenticidade. As descrições, que tornam as coisas em seres e elevam os seres a deuses, abrigam em si todos os louros. Os pormenores, a forma como as cores, a passagem do tempo e os cenários são expostos arrebatam a dificuldade em idealizar o que quer que seja. A escrita é complexa, cheia de rodeios e obriga-nos a andar às rodas, mas é dada com uma dose de indução à imaginação certeira.

Mergulhar em A Floresta é receber lufadas de ar fresco no mar da literatura. Para além disso, é “reacreditar” naqueles mundos tão pensáveis e tão impossíveis de se concretizarem num universo fora da escrita.