#Arquivo | O Amor é um Lugar Estranho: mais do que uma narrativa, uma experiência

O Amor é um Lugar Estranho foi escrito e realizado por Sofia Coppola em 27 dias, na cidade de Tóquio. O drama de 2003 apresenta uma experiência de isolamento, solidão e intimidade, que coloca o espectador lado a lado com as personagens. Não é um romance tradicional, com dramas e floreados, mas sim uma dissecação a uma relação platónica, condenada pelo tempo.

A narrativa conta a história de Bob Harris (Bill Murray), uma estrela de cinema esquecida, e Charlotte (Scarlett Johansson), uma jovem perdida no casamento e na vida. Os caminhos dos protagonistas cruzam-se num hotel em Tóquio, onde ambos estão a passar algum tempo. Sem qualquer conhecimento da língua ou da cultura do país onde se encontram, são deixados à sua mercê para explorar o hotel e a cidade. É durante uma noite interrompida por insónias que os personagens se conhecem e estabelecem diálogo pela primeira vez. A partir daí, encontram-se regularmente, no silêncio da noite, para se tornarem inesperados companheiros de viagem.

Com as personagens como ponto fulcral da ação, era imperativo que Bill Murray e Scarlett Johansson tivessem uma prestação subtil e, simultaneamente, impactante. O primeiro apresentou aqui uma das suas melhores performances, juntando o drama com a sua habitual leveza cómica, o que lhe valeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Ator Principal. Já a atriz viu em O Amor é um Lugar Estranho a oportunidade de se destacar no mundo de Hollywood, com a sua já característica performance natural e subtil, que lhe garantiu um BAFTA de Melhor Atriz Principal.

A cinematografia é uma das peças principais desta narrativa. Para além da captura dos famosos cenários da capital do Japão, o diretor de arte da produção teve especial cuidado em transpor nos shots o estado emocional das personagens. Assim, conseguimos perceber que sempre que uma das personagens está sozinha, encontra-se também num espaço negativo da tela, amplificando essa solidão. Em contraste, quando os protagonistas estão juntos, são colocados no meio da tela, como participantes ativos da ação. Todas estas escolhas foram ponderadas cuidadosamente, transformando esta obra no filme de culto que é agora.

A parte mais importante de O Amor é um Lugar Estranho será sempre a mensagem, é isso que o torna eterno. Este drama com um pequeno orçamento e tempo de gravação foca-se no estudo de duas personagens, que apesar de se encontrarem em diferentes pontos da sua vida, estão a passar por uma mesma vaga de emoções. Percebemos assim, talvez depois da segunda ou terceira visualização, que esta narrativa nada mais é que uma dissecação à condição humana e um estudo da solidão.