A morte de George Floyd voltou a mobilizar vozes em todo o mundo. Os protestos antirracismo acontecem em vários países no mundo e Portugal não foi exceção.
As ruas de Braga encheram-se de vozes contra o racismo. A Avenida Central mostrou ser pequena para as centenas de pessoas que marcaram presença na manifestação que, segundo a organização, teve como objetivo combater o racismo e consciencializar para os direitos humanos. O protesto foi marcado pela nomeação de vários nomes de vítimas de racismo em Portugal e no mundo, por uma série de testemunhos livres e por um momento de silêncio onde muitos se ajoelharam num gesto simbólico a favor da igualdade.
Marta Dias, responsável pela organização, defende que o voto, o ativismo e a educação são a chave para a solução do problema. Acredita que o ativismo “não deve ser feito só nas redes sociais, mas também presencialmente”. Assume que “a educação é fundamental no combate à discriminação” e prevê que vai “ser um processo longo e demorado”, mas possível se “todos fizermos a nossa parte”.
Numa manifestação antirracista a questão da existência de raças é feita. Por um lado, uns afirmam, como é o caso de Teresa Amorim, que “a raça não existe”. Para a participante, o conceito não “passa de uma criação”. Por outro lado, há quem defenda que apenas no início, o antirracismo assentava num discurso de que não há raça. Porém a raça existe enquanto as condições de vida das pessoas forem determinadas pela suas características físicas. Perspetiva defendida por Rosa Cabecinhas que acredita que não temos de ser “color blind”. Considera que a cor da nossa pele “transporta uma história e sermos cegos a essa história pode representar uma continuidade do racismo”. Para a investigadora da Universidade do Minho, alguém que sofreu por ter uma determinada cor de pele “pode não aceitar que não existem raças porque já sofreu com isso”.
“O que é ser português? Ser europeu? E o que é ser Humano?”. Questões levantadas por Rosa Cabecinhas no seguimento de alguns testemunhos que afirmavam que “os portugueses não sabem o que os negros sofreram”. Para Cabecinhas, ao serem feitas afirmações como esta, está-se a assumir que os portugueses não são negros. “Temos de deixar de pensar na nação como apenas branca cristã”. “Portugal não é um país homogéneo”. O racismo “tem uma longa história, mas a sua notoriedade enquanto problema social é mais recente”, acrescenta.
Não faltaram referências ao passado colonial português. Teresa Amorim considera que “toda a criação de Portugal é baseada em racismo e xenofobia que está entranhada no nosso país”. Numa reflexão sobre a educação da história de Portugal, Rosa Cabecinhas acha muito importante que se conte a história de Portugal “de uma forma em que se esteja atento às consequências das ações históricas para ambos os grupos” (nós e os outros). Faz uma crítica à premissa de que os descobrimentos foram um momento glorioso. “Isto silencia e apaga a dor de muitos povos.”
A investigadora refere que o problema existe também nos manuais escolares. “Há um apagamento de diversas violências e discriminações” e considera importante mudar esta narrativa. Cabecinhas acredita que é “fundamental fomentar a comunicação intercultural. Algo que é esquecida nos currículos”. No seguimento de alguns testemunhos de ódio, considera que esta educação que encobre “leva a trauma, violência e ressentimentos mútuos”.
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