No dia 22 de maio de 2020 chegou até ao público o mais recente trabalho dos Clã. Sempre fiéis ao registo a que nos habituaram com o passar dos anos, o álbum fica marcado por diversas colaborações com artistas portugueses, que deram uma ajuda na produção. A voz de Manuela Azevedo continua a liderar o projeto, que se tornou um dos grupos mais acarinhados em Portugal.

A primeira faixa, “Sinais”, tem letra assinada por Samuel Úria. O baixo é chamado para intervir nos primeiros acordes da música. Traz a tensão que a letra invoca, num tom quase de despedida devido às pessoas à sua volta não terem percebido os sinais, como o próprio título indica, de que algo não estava a correr bem.

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A artista Capicua teve a tarefa de escrever “Tempo-Espaço”. Na mesma corrente quase melancólica, o ouvinte é levado, em certas partes, a fazer uma introspeção ao embalo da voz terna de Manuela Azevedo. Quando ouvimos “Oh, Não! Outra Vez” e descobrimos que o autor da letra é Sérgio Godinho, percebemos que a simbiose faz todo o sentido.

Os primeiros segundos de “Armário” trazem-nos um coro que quase parece um grito de revolta, e partes da letra como “eu estive quase a ser feliz”, acabam por dar força à minha teoria. Quando passamos para a canção seguinte, “Pensamentos Mágicos”, acabamos uma fase menos feliz da coletânea, e acontece uma explosão de sentimentos e confiança de que não há fronteiras na personalidade da cantora.

“A Arte de Faltar À Escola” junta a voz da vocalista dos Clã com apontamentos espontâneos do brasileiro Arnaldo Antunes, que também foi o autor da letra. A voz mais interventiva das faixas anteriores desvanece em “Dá o Que Tem”, numa música mais ternurenta e virada para o lado mais romântico que as canções podem transportar em si próprias.

Com nova colaboração com o artista Samuel Úria, nasceu “Jogos Florais”. Novamente a fase mais apaixonante do álbum é chamada à ação, com destaque para as muitas rimas presentes no poema. “Tudo No Amor” foi o primeiro single a ser lançado pelos Clã, ainda em 2019, com versos potentes e que prendem o ouvinte, é a minha favorita na coletânea.

A fechar vem “Na Sombra”, uma música que parece saída de um filme da Disney ou de um musical. Leve e muito fácil de ouvir, termina uma coletânea de 10 canções que abrem o apetite para uma longa viagem a ouvir todos os temas, com a calma e a atenção que todos eles merecem.

Quando terminamos de ouvir, percebemos que, mesmo com algumas alterações decorrentes com a mudança do panorama musical, os Clã continuam fiéis desde a formação do grupo, em 1992. O mais recente disco, Véspera, chegou para mais uma vez encantar os ouvintes da banda.