No Dia do Atleta Olímpico, o ComUM falou com Tamila Holub e Rui Bragança. A nadadora e o praticante de taekwondo explicam o percurso até ao sonho de competirem nos Jogos Olímpicos e abordam, inevitavelmente, o adiamento da competição e as dificuldades que a pandemia causou na preparação para o regresso às provas.

O Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou, em comunicado, que “dadas as circunstâncias, os Jogos da XXXII Olimpíada em Tóquio devem ser reagendados para uma data para lá de 2020 e nunca depois do Verão de 2021, para salvaguardar a saúde dos atletas, de todos os envolvidos nos Jogos Olímpicos e da comunidade internacional”. O evento vai manter o nome “Tóquio 2020” e a chama olímpica vai continuar a arder em território japonês.

Para Portugal, o adiamento da competição vai obrigar a um esforço suplementar por parte do Comité Olímpico de Portugal (COP). A entidade olímpica portuguesa prevê a necessidade de reforçar em 1,5 milhões a verba para garantir o apoio financeiro aos atletas envolvidos, sem contabilizar eventuais perdas no que diz respeito a alojamentos e viagens já reservadas.

Tamila Holub Jogos Olímpicos

Fotografia: SC Braga

No âmbito da data, o ComUM contactou dois atletas olímpicos da região do Minho, que marcaram presença na última edição da competição. Tamila Holub vai representar Portugal na natação e Rui Bragança, que ainda aguarda o apuramento, representa o país lusitano no taekwondo.

Para Tamila Holub, de 21 anos, a paixão pela natação não surgiu logo quando começou a praticar, mas foi crescendo e tornou-se cada vez mais séria. A atleta, que representa o SC Braga, prefere crawl em distâncias curtas, por não ser muito adepta de outros estilos e esta ser a prova em que tem apostado mais para os Jogos Olímpicos. Já Rui Bragança, de 28 anos, foi o primeiro atleta português a vencer um combate de taekwondo na olimpíada. Neste momento, o maior objetivo do desportista é garantir o apuramento para a edição de 2021.

Recordando o início do seu percurso na modalidade, Bragança declara que, apesar de inicialmente não ter sido uma paixão, quando começou com jogos de combate foi evoluindo no caminho da competição. A partir daí, o que o cativou foi a tática e “a emoção e o prazer que dá. Parece que o mundo desaparece quando estamos lá dentro”.

A gestão de um calendário muito rigoroso

Rui Bragança Dia do Atleta Olímpico

Fotografia: Inácio Rosa/LUSA

O atleta vimaranense formou-se em Medicina pela Universidade do Minho, tendo inclusive ganho duas medalhas de prata nas Universíadas. No entanto, confessa que para conciliar o desporto com o curso “foi preciso ter muito bem assentes as prioridades”, no entanto sentia que o taekwondo era algo a que se tinha de “aplicar a 100%”.

O ex-estudante da UMinho recorda que o desporto ocupava a maioria do seu tempo e o que restava era destinado ao estudo. “Fui estudando sempre que podia e onde podia, aprendi a estudar com fones, para ignorar tudo o que estava à minha volta”, explica. “Tinha o meu material de estudo no telemóvel, no tablet e andava sempre com o livro de apontamentos atrás. Aprendi a estudar em aeroportos, em todo o sítio e mais algum, e as coisas foram-se fazendo”, acrescenta Rui Bragança.

O desportista português admite que a sua relação com a família e amigos acabou por ser bastante prejudicada. Assume também a sua sorte em ter pais que o “compreendiam a 100%” e amigos que o apoiaram e nunca lhe cobraram as suas ausências. “Davam-me força para continuar”, recorda. Também Tamila, que seguiu a mesma área de estudos, aponta que é preciso saber gerir bem o tempo disponível. Na altura dos Jogos de 2016, a atleta encontrava-se no 11º ano e sentiu ser um período bastante exigente, por ter muita coisa a acontecer ao mesmo tempo.

As recordações do passado… enquanto se aguarda por novas memórias

Rui Bragança relembra também momentos menos bons, como é o caso dos Jogos Olímpicos de 2016, onde venceu o primeiro combate, tendo sido eliminado no segundo. O atleta afirma que “tudo aquilo que se sucede antes do combate é simplesmente incrível e, mesmo depois, é algo indescritível”. Contudo, o vimaranense não sentiu pressão e encarou os combates “como se fosse só mais um”.

Tamila Holub Dia do Atleta Olímpico

Fotografia: SC Braga

Tamila Holub conseguiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2020 na prova de 1500 metros livres, a 15 de junho de 2019, com o tempo de 16:20.81. Foi a segunda vez que a nadadora garantiu acesso à maior competição multidesportiva do mundo, depois de ter participado no Rio de Janeiro em 2016, onde foi 24.ª classificada na prova de 800 metros livres.

A atleta do SC Braga declara que a sua participação na última edição dos Jogos Olímpicos foi uma experiência muito positiva e que quer voltar “o mais rapidamente possível”. Lembra a entrada na Aldeia Olímpica e a diversidade de atletas e competições, e como esse momento “cria respeito” e considera o ambiente “fantástico”.

A notícia de que a competição, prevista para o verão de 2020, ter sido adiada para o ano seguinte não foi recebida da melhor forma pela nadadora minhota. Tamila acha que a decisão não iria ser tomada, pois percebe a dinâmica da competição e tudo o que esta envolve. Contudo, quando de facto interiorizou que ia esperar mais um ano para voltar aos grandes palcos mundiais, a desportista bracarense sente que o esforço foi desperdiçado.

Tamila Holub admite que foi uma situação muito complicada. “O corpo está habituado a treinar cinco horas por dia só na água”, explica, e esses treinos pararam de uma forma abrupta. As sessões aquáticas foram substituídas por treinos de core, manutenção física e cardio. Para a nadadora, o regresso à piscina “não foi nada fácil”.

Rui Bragança

Fotografia: Comité Olímpico de Portugal

Recentemente, Rui Bragança deslocou-se à Bélgica para a realização das provas de apuramento olímpico, que viu serem adiadas pela Covid-19, tendo que regressar a casa. “Foi bastante estranho, até porque nós não soubemos que a prova de apuramento estava logo adiada”, refere o atleta do SL Benfica.

Durante o período de confinamento, Rui treinou em casa. O atleta relata que “os treinos físicos foram adaptados, porque também não tinha tanto material” e, com isso, “os treinos de taekwondo passaram a ser só técnicos, uma vez que é impossível treinar a tática se não tivermos um oponente, um parceiro de treino”. Apesar da perseverança e da resiliência, admite que foi “bastante chato para aquilo a que estava habituado – não existia em nenhuma parte qualquer imprevisibilidade, não tinha que ser propriamente criativo, não tinha que reagir a nada”.

O sonho de uma final olímpica e um apuramento ainda por fechar

Na próxima edição dos Jogos Olímpicos, Tamila conta com “expetativas bem mais positivas do que nos outros Jogos”. Ao contrário da última edição em que foi com intuito de participar, no próximo ano quer algo mais, estando a treinar para uma final olímpica. Até lá, a atleta diz, em tom mais cómico, querer “perder as bochechas” e voltar à forma habitual, sentindo-se “rápida” na água.

Com toda esta situação de pandemia, a atleta teve tempo para experimentar alguns hobbies como fazer origami, bordar e ensinar a irmã a tocar flauta. Apesar de tudo, Tamila sente-se bem por retribuir o tempo que a família lhe dedica. Já Rui, continua a “replanear as coisas, apesar de ainda não haver datas para apuramentos e competições”. “Já sabemos que os Jogos são para o ano e é com isso que estamos a trabalhar”, refere, antes de acrescentar que “não adianta pensar em Jogos Olímpicos ou em medalhas se não estiver apurado”.

“O que tem de ser tem muita força”, conclui o atleta vimaranense. O jovem acredita que toda esta situação, e o facto de ter conseguido manter todos os treinos, demonstra a muita vontade que tem em continuar em competição, apesar das adversidades. “A verdade é que a vontade de treinar esteve sempre cá”, finaliza.

Artigo: Sofia Carneiro e Mariana Areal