O Último Patamar é um filme original da Netflix que estreou a 17 de abril em Portugal. A produção carrega o conceito de La Palisse de que, quanto maior a subida, maior a queda, do início ao fim.
Depois de explorar o submundo neo-nazi berlinense e a comunidade islâmica em Unmah – Unter Freunden (2013), Cüneyt Kaya traz o seu olhar cómico, mas crítico, para o mundo da especulação imobiliária. Com um elenco convincente, uma visão interessante sobre o vício do lucro e sem largar a influência sociocrítica de trabalhos documentais prévios, Betonrausch, nome original de O Último Patamar, mistura bem elementos de comédia e drama, com uma reflexão séria sobre ganância, adrenalina e risco desmesurado.
Ao contrário de outros filmes que exploram temáticas semelhantes, como O Lobo de Wall Street (2013), o que se destaca é a abordagem mais emocionalmente vinculativa para com o protagonista que o enredo traz, especialmente no começo. No entanto, Kaya não hesita em degradar rapidamente este vínculo inicial, com ações cada vez mais destrutivas, tanto por parte do protagonista como dos que o rodeiam.
O que parece ser um plano infalível para enriquecer torna-se rapidamente num pesadelo financeiro. Grandes excessos, fugas ao fisco e sucessivos atropelos especulativos às economias de pequenos e grandes investidores imobiliários são apenas alguns dos ingredientes nesta receita para o desastre. Um dos paralelismos mais bem-conseguidos de O Último Patamar é a forma como aborda a traição e o vício, tanto no panorama emocional, como financeiro. Este e outros aspetos tornam-se mais evidente à medida que a história se desenvolve e que Viktor Steiner, o protagonista, se abeira do abismo que criou para si próprio.
Apesar de não haver um ponto de ruptura claro, o embrião do esquema milionário de especulação que cimenta a narrativa aparenta ser uma parceria em “modo de sobrevivência” entre dois amigos improváveis. Porém, a farça torna-se depressa num exercício de constante voracidade, onde a vida do personagem principal gira em torno do lucro, ignorando qualquer tipo de barreira ética ou legal para o obter.
O Último Patamar dá muita atenção a hedonismo gráfico, materialismo puro e a comportamentos gratuitos. Há, contudo, um contraste bem conseguido entre, por exemplo, o cómico carnal de uma celebração eufórica ao som de Billie Eilish, com a intensidade de uma gravação para a filha de um pai atrás das grades. São estes e outros momentos que validam este filme como um ensaio sobre a futilidade e o verdadeiro valor das coisas a que vale a pena assistir.
Título Original: Betonrausch
Direção: Cütney Kaya
Argumento: Cütney Kaya, Johannes Kunkel
Elenco: David Kross, Frederik Lau, Janina Uhse
Alemanha
2020