Os Outros, publicado em Dezembro de 2019, é a terceira e mais recente obra da autora C. J. Tudor. O thriller, que interliga narrativas, com claras influências de alguns clássicos do género, mas com um toque moderno agradável, é hipnotizante de início a fim.

Esta é a terceira obra de C.J. Tudor. A autora de 48 anos, nascida em Salisbury, na Inglaterra, tentou publicar o seu primeiro livro, O Homem de Giz, durante dez anos. Contudo, foi recorrentemente ignorada pelas editoras. Quando conseguiu o que pretendia, as críticas da imprensa foram mistas, mas a obra foi muito bem-recebida pelos leitores. A sede de uma leitura que fluísse tão naturalmente levou a que Os Outros fosse também bem acolhido.

Este livro conta-nos algumas narrativas intercaladamente, mas temos inicialmente a sensação que a de Gabe será a principal. Num dia, ao regressar a casa, o protagonista fica no meio do trânsito e tem a sensação de ver a sua filha, Izzy, na viatura à sua frente. Quando consegue ligar para casa, uma inspetora informa-o que a sua mulher e filha foram assassinadas.

C J Tudor Os Outros

DR

Três anos depois, o homem passa os seus dias e noites à procura da família ou do carro que a levou, mesmo tendo toda a gente a julgar que elas estão mortas. A sua demanda leva-o a encontrar-se com as personagens de outras narrativas que nos são apresentadas, tudo isto numa teia bem construída de mistério, terror e uma adrenalina que já não me recordava ser possível com a leitura.

A atmosfera de toda a narrativa está bem conseguida. A descrição é um dos seus pontos mais fortes e relembra que não é preciso ser exaustivo para ser eficaz. De uma forma simples mas meticulosamente sensorial, cheguei a sentir, em pleno junho, que estávamos próximos do Natal.

Outra das questões a enaltecer é a complexidade da estória, mantendo a homogeneidade e coerência. Por vezes, numa narrativa complexa é comum deixar questões por responder. Confesso que, ao longo do livro, senti que iria ficar com várias perguntas na cabeça. No entanto, a autora consegue responder ao que pensamos e dar-nos respostas a perguntas que não sabíamos que tínhamos.

Existe uma influência notória de algumas das obras de Stephen King. É natural que, ao falar deste género, tenhamos sempre o pai contemporâneo do terror em mente. Contudo, a mistura de terror com alguma ficção sobrenatural torna a comparação obrigatória.

Sublinhemos ainda a construção coesa e interessante da maior parte das personagens, que estão longe de ser bidimensionais. A forma como nos são apresentadas dá aso a que mantenhamos a opção de suspense e dúvida na cabeça, mas sem os estragos de atitudes fora do perfil não justificadas.

Arrisco a dizer que toda a gente já encarou a dificuldade de começar um livro passado algum tempo. Ou andamos muito cansados, ou não temos nada muito cativante para ler. Para esses momentos, recomendo Os Outros, porque já há algum tempo que não sentia a ânsia pela altura em que posso retomar o capítulo. Consistente, hipnotizante e uma boa resposta a quem diz que terror e literatura não combinam.