José Saramago faleceu há dez anos. Um dos escritores portugueses mais aclamados, de um estilo inconfundível e inimitável e vencedor de um Prémio Nobel da Literatura, padeceu de leucemia em 2010. Deixou-nos, contudo, uma obra vasta, rica e inesquecível.
Nasceu a 16 de Novembro de 1922 na Golegã, em Portugal. Filho de dois agricultores, Maria da Piedade e José de Sousa, recebeu o seu apelido devido a um erro no registo, pois, erradamente o conservador registou-o com a alcunha pela qual a família era conhecida. Mudou-se para Lisboa com os pais dois anos após o seu nascimento, tendo passado lá a maior parte da sua vida. Desde cedo mostrou interesse pela cultura. No entanto, devido às dificuldades económicas não foi capaz de frequentar o ensino secundário e, consequentemente, o superior.
Após um percurso conturbado de sucessivas mudanças profissionais, em que trabalhou como pintor, funcionário de saúde e providência social, tradutor, editor, jornalista, entre outros, José Saramago conseguiu finalmente publicar o seu primeiro romance: Terra do Pecado (1947). Tentou, de seguida, publicar um segundo livro: Clarabóia. Porém, a edição foi rejeitada e o escritor ficou 19 anos sem lançar qualquer obra. Permaneceu no seu trabalho na editora e colaborou como crítico literário em algumas revistas. Chegou, inclusive, a fazer parte da redação do jornal Diário de Lisboa, onde era comentador político.
Publicou mais dois livros e chegou mesmo a trabalhar no Diário de Notícias. Após ser despedido do jornal, decidiu dedicar-se totalmente à literatura, acabando para sempre a sua carreira enquanto jornalista. Retornou aos romances em 1977, com Manual de Pintura e Caligrafia. Face a esta decisão, que acabou por mudar o rumo da sua vida, o autor chegou a comentar: “Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem.”
O estilo saramaguiano – que dá dores de cabeça a todos ao primeiro contacto, mas estraga tudo o que vier depois – só apareceu com Levantado do Chão (1980). No entanto, apenas em 1982 é que José Saramago começa a captar atenções, através de Memorial do Convento. Neste livro, de leitura obrigatória no ensino secundário durante alguns anos, o autor crítica a Igreja e refere-a como um fenómeno humano construtor de guerras.
Numa segunda fase, o autor elaborou quatro romances com uma temática mais voltada à realidade material: O Ano da morte de Ricardo Reis (1985), A Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991). Após este período, passou a elaborar obras nas quais escrutina a sociedade contemporânea, questiona o capitalismo e o papel do ser humano e a sua efemeridade. Destaca-se Ensaio Sobre a Cegueira (1982), que foi, sem dúvida, um dos seus maiores sucessos e motivos para ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998.
Aos 87 anos, José Saramago acabou por falecer de leucemia. “Escrevemos porque não queremos morrer. É esta a razão profunda do ato de escrever”, dizia. Cuidemos então de tudo o que este jornalista, cronista, comentador, autor de excelência e pensador exímio escreveu e não o deixemos morrer.