A segunda temporada de Ramy estreou na Hulu a 29 de maio. A série volta com novas personagens e veio provar que, por vezes, não temos a resposta para todas as nossas perguntas.
Ramy, criada e protagonizada por Ramy Youssef, voltou aos nossos ecrãs e não deixou o fator cómico para trás. Para aqueles que acompanham a série desde o início, não é novidade a constante bagunça que o protagonista representa. A primeira temporada deixou-nos no Egito e com a ideia de que Ramy finalmente estaria estável. Contudo, diversos eventos levam-no a regressar à América e a mergulhar no ciclo depressivo que conhecemos.
Nesta temporada, o personagem ganha consciência da sua situação e não haveria a quem pedir ajuda senão a Alá. É aqui que surge a primeira nova personagem, representada por Mahershala Ali, um sheik da mesquita onde Ramy procura a orientação espiritual que necessita. Obcecadamente, o protagonista procura uma lavagem dos seus pecados, na sua maioria sexuais, pois está constantemente a tentar preencher um vazio do qual desconhece a origem. O seu novo sheik fornece-lhe as pedras para construir esse caminho, mas nunca o constrói por ele.
Para além disto, a segunda temporada traz também é uma perspetiva mais detalhada da vida das personagens secundárias. Toda a família de Ramy tem um episódio dedicado às suas vidas e todos eles são preenchidos pela comédia inteligente, mas também pelo lado emotivo que um o ser humano possui.
Quase todas as séries que conhecemos partilham o psicológico, por muito breve que seja, das personagens. Porém, Ramy vai para além do detalhe: analisa as teias que a nossa mente por vezes cria e faz-nos questionar algo que julgávamos certo. Por exemplo, quando Dena, irmã de Ramy, se depara com uma situação que coloca a sua vida em risco e a fé dentro de si, que julgava ser inexistente, acaba por ser a sua escapatória.
Outro aspeto que me faz acreditar que esta série é das melhores criações da última década é a sua lente para a vida real de famílias imigrantes. Nos episódios em que nos aproximamos das vidas dos pais de Ramy, Maya e Farouk, verificamos as complicações que advêm de viver nesta condição nos Estados Unidos. Maya foca-se inteiramente no seu teste de cidadania para finalmente a obter. Já Farouk depara-se com a perda do seu trabalho, a vergonha pela sua identidade egípcia e o arrependimento de não seguir o seu sonho.
Algo com que Ramy lidou na perfeição foi o conflito interno provocado pela nossa identidade. A fé facilmente entra em confronto com a identidade quando parte de nós pode ser considerada pecado. A sexualidade entra nesta temporada em força, quando inconscientemente cria um fosso entre o Eu e Deus. Há um foco em assuntos que abalam as conceções e os tabus das sociedades de forma a quebrar o gelo, especialmente nas mais conservadoras.
De uma forma extremamente cómica e hilariante, a produção trouxe, mais uma vez, a consciência social. Mais do que nunca, os extremismos instalam-se na ignorância dos que escolhem ignorar uma nova perspetiva. À porta da nova mesquita que frequenta, Ramy é confrontado com o extremismo de pessoas que atiram todos os elementos da comunidade muçulmana para o mesmo saco. Porém, e para surpresa do protagonista, o seu sheik ensina-o a responder ao ódio através da simpatia e compaixão de Alá. A série é o reflexo atual de uma América perdida na amargura.
Foi com a primeira temporada que Ramy se tornou numa das minhas séries favoritas. Após a segunda, guardo-a no meu coração e somente posso esperar pela terceira. Uma comédia que conhece o drama diário das personagens e faz qualquer um apaixonar-se pela história do filho de imigrantes egípcios. Contudo, todos nós nos podemos rever na sua história. Ninguém tem a resposta para todas as nossas perguntas. O vazio que o desconhecido gera em nós faz parte do processo do ser humano. Sem dúvida que a viagem que Ramy teve na procura do seu Eu é algo que, da forma mais hilariante possível, promete trazer mais novidades.