White Lines estreou na Netflix a 15 de maio. A produção britânico-espanhola da mente do criador de La Casa de Papel aborda temas para todos os gostos, o que nem sempre é bom. Entre sexo, drogas, crimes, dramas familiares, performances muito distintas e time-lines diferentes, por vezes não sabemos o que achar.
A produção britânico-espanhola estreou a 15 de maio e ficou, durante alguns dias, no top 10 de séries em Portugal. Fala-nos de Zoe, uma rapariga de Manchester que é chamada a Ibiza para reconhecer o corpo do seu irmão. Este havia desaparecido há 20 anos, após se ter mudado para a ilha com amigos para se tronar um DJ famoso. A rapariga vê-se então obrigada a ficar lá para tentar descobrir o que aconteceu ao seu irmão. A sua demanda foca-se não só na questão acerca da morte de Alex, mas também numa clara crise existencial da protagonista que sempre foi mais pacata e responsável.
O cenário idílico de Ibiza contrapõe-se bastantes vezes à podridão moral inerente à ilha. As drogas, o sexo, o crime, a brutalidade, a vida noturna e os jogos de poder são alguns dos temas centrais da produção. Contudo, apesar da carga geralmente associada a estes temas, a série é bastante leve. Balançando algumas cenas mais pesadas com momentos de humor, White Lines pode ser a companhia perfeita para uma noite, porque não nos deixa dormir mas não nos tira o sono.
O argumento e a temática constituem das maiores falhas da produção, pois por vezes ficamos com a sensação que houve vontade de colocar todos os temas possíveis em apenas dez episódios, o que nem sempre funciona bem. O “quem fez”, que julgávamos ser o ponto principal, não o é muitas vezes. O drama familiar, algo que chega a ser um pouco “telenovelesco”, acaba por dominar a ação em várias ocasiões. No entanto, a boa construção das personagens, que em tão pouco tempo mostram um desenvolvimento interessante e geram empatia no espectador, escondem estas falhas.
Por outro lado, White Lines tem também bastantes pontos positivos. A fotografia e a edição são praticamente exímias. Momentos paisagísticos de tirar a respiração e cenas de ação vertiginosas dão-nos a sensação que os produtores são experientes em todas as situações possíveis. A série é revestida com uma paleta de cores onde predominam o amarelo torrado e o azul, que não poderiam desempenhar melhor o seu papel. Os cenários interiores são bastante cuidados e a caracterização do tempo é minuciosa, com a presença de duas time-lines diferentes que se intercalam: o presente e o inicio dos anos 90, altura em que Alex desapareceu.
Os atores, por sua vez, são uma faca de dois gumes. Laura Haddock constituiu, na minha opinião, uma das piores partes da série. A personagem representada não é, de facto, a mais interessante, mas a interpretação da atriz britânica deixa bastante a desejar e não abona a favor de Zoe, pela qual já era difícil ficar apaixonado.
Por outro lado, Nuno Lopes, que interpreta Boxer, faz um trabalho extraordinário. A sua personagem é bastante rica e, apesar do seu lado mais bruto e selvagem quando necessário, vemos em Boxer um lado carinhoso e intelectual, o que requer uma performance muito cuidada e camaleónica para que esta mensagem nos seja entregue, pois as suas ações são muito subtis.
White Lines é, no geral, uma série bastante agradável. No meio de tanta preocupação em tentar ser profundo e impactante, muitas das séries esquecem-se de algo bastante importante: entreter. Apesar de algumas falhas noutros parâmetros, esta produção mista entretém. Com uma estética agradável, um conceito fácil de entender e uma performance portuguesa de louvar, não é inesquecível, mas recomenda-se.
Título Original: White Lines
Direção: Nick Hamm
Argumento: Álex Pina
Elenco: Laura Haddock, Nuno Lopes, Marta Milans
Reino Unido | Espanha
2020