De um projeto escolar a um filme nomeado, A Malta do Bairro chegou ao mercado em 1991. O mote, fora a sua realidade aterrorizante, é baste simples: “Um em cada 21 homens negros será assassinado ao longo da sua vida. A maioria morrerá às mãos de outro homem negro.” Sem tirar nem pôr, o filme trata a temática com respeito e procura muito mais do que espelhar unicamente essa realidade.
Devido aos acontecimentos recentes, falo desta temática com um nó na garganta maior do que o habitual. Apesar de A Malta do Bairro relatar a violência entre homens negros, vai para além disso, permite-nos explorar a violência policial, a segregação racial e a formação (com certeza, ou pelo menos espero, inconsequente) de realidades onde se instiga a lei da sobrevivência inatural. Fora raras exceções, tudo começa e acaba em South Central Los Angeles.
John Singleton, escritor e diretor da obra cinematográfica, conta-nos a história de Tre Styles, que se vê obrigado a ir morar com o seu pai, Furious Styles, devido a comportamentos indevidos. A falta de vontade do jovem é evidente e, desde logo, o nosso instinto, sendo vergonhoso dizer isto, é associar o seu pai a uma das realidades já estereotipada, como sendo membro de um gangue, vendedor de droga ou consumidor excessivo desses mesmos estupefacientes.
De facto, sobre o seu passado pouco sabemos. Tudo o que descobrimos é revelado ao longo do filme com quase duas horas. De qualquer forma, percebemos desde cedo que a sua antipatia não é mais do que uma tentativa de transmissão de ensinamentos essenciais à sobrevivência e formação do filho. Todos estes ensinamentos correspondem genericamente a lições válidas de vida. Contudo, apesar de corresponderem a premissas relativamente simples, a sua necessidade é questionável. Questionável para quem abandona o barco desta aventura e não percebe a fundo a realidade representada.
Como não poderia deixar de ser, ser criança é o estágio do desenvolvimento humano onde a honestidade gratuita é mais vigente. Além disso, estas são também muito influenciáveis pelos círculos em que crescem e estão envolvidas. Fora desenhos representativos e premonitórios, o tema desta longa-metragem, o preconceito racial, fica latente naquela que seria uma aula do quinto ano.
A Malta do Bairro encontra-se recheado de celebridades mundialmente conhecidas. Destacam-se Cuba Gooding Jr. (Tre Styles), Laurence Fishburne (Furious Styles), Angela Bassett (Reva Styles), Ice Cube (Doughboy), Morris Chestnut (Ricky Baker) e Regina King (Shalika). Ice Cube participa ainda na banda sonora, com “How to Survive in South Central”, que aponta novas regras de sobrevivência, diferentes das enumeradas por Tre, numa representação das possíveis visões sobre a mesma temática.
Através de “How to Survive in South Central”, explora-se também o tema da violência policial. A lírica da canção é assustadoramente auto-explicativa: “Se és branco podes confiar na polícia / Mas se és negro eles não são nada além de bestas / Abre os olhos para a matança / Não faças movimentos em falso e mantém as mãos no volante / E não te armes em chico esperto / Responde a todas as perguntas, esta é a primeira lição / de como sobreviver”.
Além da música de Ice Cube, contamos com a presença de outras músicas impressionantes sobre a temática, nomeadamente “Just a Friendly Game of Baseball (Remix)”, de Main Source, e “Growin’ Up in the Hood”, de The Unknown DJ & DJ Slip. Além de canções com mensagens intrinsecamente relacionadas com a problemática, o filme faz-se acompanhar de uma banda sonora para todos os momentos, como por exemplo a balada performada por Tony Toni Tone, “Just Me and You”.
A Malta do Bairro corresponde a uma longa-metragem de confrontação com realidades das quais nos falam, mas nas quais não acreditamos ou fazemos por não acreditar. Uma confrontação que nos permite refletir sobre o estado e as mudanças (ou a falta delas) do mundo. Apesar de ser um percurso agonizante, a falta de ação, em determinados momentos do filme, retiram um pouco da emoção esperada.
Título Original: Boyz n the Hood
Direção: John Singleton
Argumento: John Singleton
Elenco: Cuba Gooding Jr., Laurence Fishburne, Angela Bassett
EUA
1991