Eça de Queirós foi um dos mais importantes escritores da literatura nacional. Reconhecido pelos seus romances, o autor escreveu também alguns contos. Contos oferece-nos a experiência de Eça sem o que normalmente se critica no que é de Eça.

José Maria de Eça de Queirós, natural da Póvoa de Varzim, nasceu em 1845. Estudou Direito em Coimbra e concluindo os estudos, mudou-se para Lisboa onde exerceu advocacia e jornalismo. Eça teve, ainda, experiência enquanto cônsul de Portugal em Havana e administrador do concelho de Leiria. Toda esta experiência profissional e de vida conferiu-lhe um género bastante peculiar. Um género marcado pela sintetização jornalística, num misto não incoerente com a extensão descritiva de direito e com o caráter cosmopolita da diplomacia.

O autor português é dos nomes mais sonantes na literatura nacional, principalmente pelos seus romances. O crime do Padre Amaro (1875), Os Maias (1888), O Primo Basílio (1878) são algumas das suas obras mais conhecidas. De vocabulário rico, frases exímias e descrições pormenorizadas, por vezes, há um certo receio em começar um livro de Eça. Muitas pessoas consideram o estilo do autor exaustivo. No entanto, é sem dúvida enriquecedor, quer gramaticalmente, quer no que concerne ao conteúdo.

Eça de Queiroz, Contos

Esta coletânea póstuma – publicada em 1902, tendo o autor falecido em 1900 – junta o melhor dos dois mundos. O livro apresenta o cuidado técnico, que é imagem de marca queirosiana e importantes mensagens a reter, mas descura um pouco na longevidade das descrições. Estes contos são algo a não perder.

A ordem pela qual os contos foram distribuídos é, também ela, cuidadosa. Esta obra contém doze contos e, a meu ver, divididos em três partes. Na primeira, temos Singularidades de Uma Rapariga Loura, Um Poeta Lírico e No Moinho. O ponto de convergência destes três contos está na sua temática: o amor. São três estórias de amor muito diferentes, com lições e até géneros díspares (no caso de No Moinho, o naturalismo). Considero, por isso, que esta parte inicial é a mais lúdica da obra.

Na segunda parte, contamos com Civilização, Frei Genebro, Adão e Eva no Paraíso, A Aia, O Defunto e José Matias. Aqui, mesmo que num ou noutro a temática amorosa ressurja, o foco é maior na reflexão de algumas questões morais, éticas e humanas. De temas mais complexos como o desapego ao desnecessário à apreciação da natureza, do criacionismo ao evolucionismo até aos temas mais comuns como o ciúme, o egoísmo, a fidelidade, o bem e o mal, esta parte é a mais enriquecedora da coletânea.

Por último, A Perfeição e O suave Milagre. Nestes contos existe uma retoma bíblica ou clássica e uma adaptação queirosiana a estas, não descurando das lições de moral inerentes. Porém, tematicamente não considero este fragmento tão apelativo.

Esta coletânea é prova de que Eça de Queirós não deve ser relembrado apenas pelos seus romances. Temas interessantes, complexos e que nos deixam a pensar, alicerçados a um vocabulário enriquecedor e desapegados de um caráter descritivo tão extenso, tornam este livro uma obrigação para todos. Até mesmo para quem afirma que Eça de Queirós é um bicho de sete cabeças.