Tudo sobre a minha mãe estreou em Portugal a 22 de outubro de 1999. A longa-metragem é um complexo intercalar de ideias e alusões cómicas e trágicas centradas nas mulheres. Pedro Almodóvar não falha às suas personagens femininas e este trabalho é uma ode a isso mesmo.
O filme começa em Madrid com uma enfermeira, Manuela (Cecilia Roth), e o seu filho adolescente, Esteban (Eloy Azorin). O rapaz é um aspirante a escritor, que se inspira na vida da mãe e que procura saber a história do seu pai. No 17° aniversário do jovem, Manuela e Esteban vão assistir a uma peça teatral de A Streetcar Named Desire (1993) e, perante uma cena, a protagonista recorda o seu passado nos palcos amadores, numa cidade da qual fugiu.
São os trágicos eventos dessa noite que encorajam Manuela a abandonar a cidade de refúgio (Madrid) e regressar a Barcelona, na esperança de encontrar a agora Lola, uma mulher transexual, mas que é também pai de Esteban. É aí que se dá um encontro e reencontro de mulheres, todas elas diferentes e complexas, mas unidas pela essência de o serem.
Manuela é a heroína do filme e o seu centro. No entanto, Agrado, amiga de longa data e transexual como Lola, é a fonte de vida da longa-metragem. Numa cena extraordinária, a personagem enfrenta um palco vazio e um público hostil e tenta improvisar uma espécie de stand up de uma só mulher sobre a história da sua vida.
Tudo sobre a minha mãe mostra-nos que aqueles que ousam afirmar-se são aquelas pessoas que não se conformam com a vida convencional nem com as regras da sociedade. O trabalho aborda ainda a temática família e o conceito de lar. Revela que uma família pode ser escolhida, criada ou descoberta, mas também que pode simplesmente encontrar-nos. Sobre o lar, a obra cinematográfica demonstra que é o lugar onde a família estará para nos receber de braços abertos independentemente de tudo.
Todas as performances são excelentes e a imagem das personagens é imaculadamente criada e projetada. Almodóvar tece delicadamente temas de A Streetcar Named Desire, de Tennessee Williams, numa paleta já florida de teatros dramáticos e emocionais. Para além disso, pinta, entre outras visões, uma imagem trágica de Huma Rojo (Marisa Paredes), a protagonista da peça, como uma atriz miserável e envelhecida, aceitando o seu potencial como mulher e o seu papel na tragédia do aniversário de Esteban.
Por vezes é difícil percebermos que atitude tomar em relação ao filme. Será que é um drama trágico como os atores nos parecem transmitir? Ou uma comédia irónica seguindo o olhar e projeção do realizado? Nem mesmo a câmara de Almodóvar sabia por onde ficar. Isto é evidente quando o filho da heroína escreve no seu diário e a câmara olha para a caneta do ponto de vista do jornal.
Premiado com um globo de ouro para melhor filme e numerosos outros em festivais de cinema internacionais, este é uma das, se não a melhor obra de Pedro Almodóvar. Um realizador fascinado pela diversidade do feminino complementado com a simplicidade do ser.
Tudo Sobre a Minha Mãe é uma ode afetante ao espírito feminino, ao instinto maternal e ao desejo de melodrama. A obra cinematográfica é uma mistura comovente de comédia e tragédia, que afirma a vida e deixa-nos um tanto ansiosos pelo abraço da nossa mãe. O filme, no entanto, é dedicado “a toda a atriz que já interpretou uma atriz” e à mãe do diretor.
Título Original: Todo sobre mi madre
Direção: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Cecília Roth, Marisa Paredes
Espanha
1999