Após uma aventura de quatro anos, As Telefonistas dizem o adeus definitivo numa temporada inquietante, repleta de reviravoltas e comovente. A mensagem de que “a união faz a força” esteve presente desde a estreia do primeiro episódio e prolongou-se até ao último. Na reta final, a série espanhola mantém-se fiel à sua essência.
As Telefonistas estreou em 2017 na Netflix e desde então não deixou de surpreender. Desde o primeiro momento, os espectadores ligaram-se à força e a valentia de Lidia (Blanca Suárez), Carlota (Ana Fernandez), Marga (Nadia de Santiago), Ángeles (Maggie Civantos) e Óscar (Ana Polvorosa). A série acompanha estas cinco mulheres durante mais de uma década, enquanto se apaixonam, são traídas e lidam com as mais surpreendentes tragédias. Através de infinitos momentos de deixar qualquer um de queixo caído, assassinatos, traições e, acima de tudo, companheirismo, o público vê a história destas admiráveis mulheres chegar ao fim.
Na reta final, cabe às telefonistas de Madrid fazer frente a Doña Carmen (Concha Velasco), diretora do centro de reeducação de mulheres em que Lidia está presa, em Aranjuez. Espanha vive a ditadura franquista e Francisco (Yon González), Marga, Oscar (Ana Polvorosa), Carlota e Sofía (Denisse Peña) procuram formas de salvar a protagonista.
O enredo inesperado é, sem dúvida, o que mantém o espectador colado ao ecrã do início ao fim. A série despede-se com mais adrenalina do que o habitual. Há tantas reviravoltas surrealistas que, muitas vezes, é difícil assimilar o que aconteceu, algo em que os 40 minutos de episódio não jogam a favor. O tempo é insuficiente para que haja uma conexão lógica e natural, sem parecer forçada, entre os vários acontecimentos. O resultado é um: episódios explosivos que passam da ação ao drama em questões de segundos.
Apesar de se ter colocado um ponto final em todas as histórias, algumas delas ficaram a saber a pouco, como é o caso de Julio (Nico Romero). O irmão gémeo de Pablo vê a sua história aparecer e desaparecer num abrir e fechar de olhos. Não houve espaço para que a personagem que tanto impacto teve quando apareceu se pudesse desenvolver. Parece ter sido simplesmente mais um elemento para introduzir drama na história e que, na realidade, pouco aporta.
A personagem de Nadia é das que mais surpreende nesta última parte ao passar, literalmente, de menina a mulher. A doce, carinhosa e ingénua Marga é agora uma mulher feita, cheia de força e coragem. Também Lidia atingiu uma maturidade que, temporadas antes, era impensável. A prestação de Blanca Suárez foi impecável do início ao fim, mas é nos episódios finais que mais brilha – o triângulo amoroso deixa de importar para dar finalmente espaço a uma verdadeira luta. Oscar e Carlota mantêm-se iguais a si mesmas. São das personagens com o melhor desenvolvimento de toda a série e é de lamentar que, na maior parte do tempo, não tenham o devido reconhecimento.
A temporada final utiliza a história de Espanha como pano de fundo de toda a ação. Ainda que o propósito da proução não seja incidir nos conflitos políticos e sociais do país nos anos 20 e 30, o contexto envolve inevitavelmente todas as tramas. Mostram-se realidades como prisões clandestinas ou campos de reeducação, mas tudo contado através da ficção. Atualmente, esta é das poucas séries que realmente transmite valores e educa através de uma trama tão simultaneamente fictícia e envolvente.
A história que há três anos começou como uma telenovela romântica atingiu novos níveis de maturidade a cada temporada. Houve uma evolução que leva mais em conta os valores e ideias que as cinco protagonistas pretendem transmitir, sobretudo no que diz respeito ao papel da mulher na época.
As Telefonistas é uma série feminista que fala de como as mulheres querem ser livres por delas mesmas. A evolução é evidente, o que se apresenta na última temporada não são os amores e desamores daquele grupo de mulheres, mas sim o sistema que plantou nelas a semente de uma luta constante pela liberdade feminina.
Assim se despede uma das séries espanholas com mais êxito dos últimos anos. Blanca Suárez, Nadia de Santiago, Ana Fernández e Ana Polvorosa escrevem as últimas linhas das suas lutas com mais intensidade do que nunca. O final épico é o único possível para acabar As Telefonistas com coerência e faz jus a todas as guerras que elas representam.
Título Original: Las Chicas del Cable
Direção: Antonio Hernández, Manuel Goméz Pereira
Argumento: Ramón Campos, Gema R. Neira, Teresa Fernández-Valdés
Elenco: Ana Fernández, Ana Polvorosa, Blanca Suárez, Nadia de Santiago
Espanha
2020