Chegou este mês à Netflix a série Estado Zero, baseada em eventos reais. O projeto de Cate Blanchett traz à tona um tema demasiado importante para ser ignorado, os direitos dos refugiados, e choca a audiência com a exposição nua da realidade vivida por muitos.
A narrativa segue a história de quatro personagens distintas, com vidas opostas que acabam por se cruzar. Sofie Werner (Yvonne Strahovski) é uma cidadã australiana que, cansada de ceder às pressões familiares e à constante comparação com a irmã de que é vítima, decide despedir-se do emprego e mudar radicalmente de vida. Começa por juntar-se a um grupo de apoio e, quando este lhe falha, rouba a identidade de uma mulher alemã e acaba num campo de detenção de refugiados.
Ameer (Fayssal Bazzi) encontra-se no mesmo campo devido a circunstâncias divergentes. Afegão de origem, fugiu do país com a mulher e as filhas movido pela vontade de lhes proporcionar uma vida segura e promissora. Apresenta uma postura forte, honesta e resiliente. No entanto, acaba por perder a esposa e a filha mais nova no princípio da ação, numa cena que comove até os mais fortes.
A vida de Cam Sandford (Jai Courtney) entrelaça-se na de Sofie e Ameer. Sandford surge do outro lado do espectro: trabalha como guarda no campo de detenção e é confrontado com dilemas morais frequentes. Discorda dos meios usados para com os refugiados, assumindo um carácter sensível, incapaz de ficar indiferente aos maus tratos e à violência. São vários os momentos que nos enchem de nervosismo e nos deixam a torcer para que Cam faça a escolha acertada.
Clare Kowitz (Asher Keddie) completa o quarteto principal. Exibe o papel de chefe e é a responsável pelo controlo e cumprição das regras. É uma mulher rígida e inflexível, perseguida pelas suas próprias batalhas pessoais,
A prestação dos atores é brilhante, independentemente da complexidade dos papéis e da dificuldade acrescida que a sensibilidade do tema lhes confere. A interpretação é executada sem falhas do início ao fim, pelo que não se deixa de parabenizar o elenco pela atuação de tamanho nível.
A equipa de figurinistas e cenógrafos não fica atrás. A paleta de cores é adequada, tal como todos os adereços utilizados. O realismo com que tudo é representado contribui para o impacto visual da série e os detalhes não passam despercebidos.
Estado Zero marca uma posição forte ao expor um sistema com falhas, que se baseia na opressão e sede de poder. A história é educativa e pode ajudar a aumentar a compreensão de muitos, ao sensibilizá-los para o tópico e a urgência do mesmo. Num momento inicial do drama, há uma personagem que afirma “Na maior parte dos casos, quem está em fuga escolhe continuar em fuga. Geralmente porque está a fugir de alguma coisa”. A mensagem está entregue.