Krake volta aos palcos no festival viseense “Que Jazz É Este?”, no dia 26 de agosto.
Depois de alguns meses sem espetáculos, a cultura está a começar a meio gás. Em conversa com o ComUM, Krake, pseudónimo do baterista Pedro Oliveira, confessou que a pandemia serviu um pouco para abrandar o ritmo. No entanto, considera que o fator económico pesou em alguns artistas.
Além de uma retrospetiva ao início da sua carreira, o bracarense ainda abordou a estreia no festival “Que Jazz É Este?”, que se vai realizar na cidade de Viseu e que promete “experiências muito interessantes e ricas” a todos os espectadores. Este será o primeiro concerto a solo desde o desconfinamento.
A organização do festival afirmou ainda que o público “não tem nada que recear” perante alguns medos que possam existir de voltar aos espetáculos. No lado dos artistas, declararam que o regresso deste tipo de iniciativas são fundamentais para “alimentar e contribuir para a sobrevivência do setor cultural”.
ComUM: Começaste a tocar bateria em 1995. O que te cativou no instrumento?
Krake: Quando és miúdo, começas a ver os teus colegas a tocar e tu vais também, mas depois acabou por ficar para sempre. Alguns deles acabaram por desistir devido àquela fase da Universidade, quando começam a trabalhar, e eu acabei por continuar a tocar.
ComUM: O que despertou o interesse pela mitologia nórdica, usado no teu pseudónimo, Krake?
Krake: O que eu faço na bateria é muito semelhante a loops. Com isso, parece, a quem vê, que sou um baterista com vários braços. Na altura da escolha, achei piada à associação de quase ser um “polvo baterista”, e há, na mitologia nórdica, um polvo chamado Kraken. O conceito foi criado timidamente, e outra coisa que gostei foi a sonoridade do nome, “Kraken” faz quase lembrar o som “krakkrak”, como se fosse algo a bater, uma percussão.
ComUM: Mais recentemente, tens partilhado o palco com Adolfo Luxúria Canibal, que também é bracarense. Como é trabalhar com um nome tão querido da música nacional?
Krake: Eu já conhecia o Adolfo há uns anos. Tudo surgiu de uma ideia de fazer uma série de concertos em que eu convidava outros artistas para tocar comigo, mas nunca acabou por acontecer. Mas, mesmo assim, convidei-o especificamente, e desde que ele aceitou, já fizemos alguns espetáculos juntos. Acho que ligamos bastante bem. As letras que ele escreve, e a música que eu faço, é algo quase pós-apocalíptico e sombrio.
ComUM: Com diversas colaborações com artistas nacionais e internacionais, existe algum nome especial dentro dessa lista?
Krake: Existem alguns, é muito difícil escolher só um. Por exemplo, como músico dos Peixe:Avião, colaborei com o Bernardo Sassetti, e foi muito especial. Além disso, também foi uma honra tocar com os Clã e o próprio Adolfo Luxúria Canibal. A nível internacional, pude tocar com o Jim Barr, que é o baixista dos Portishead. Nenhum dos artistas é mais importante que outro por serem mais conhecidos, mas estes são mais especiais porque são nomes mais sonantes. Para uma pessoa como eu, que começou depois deles, é quase um sonho de criança. Além deles, é quase impossível me esquecer do Amadeus e do Alexandre Soares, que admiro imenso.
ComUM: Com a pandemia, foi inevitável o cancelamento de diversos espetáculos. Como foi a habituação à nova realidade?
Foi espetacular. Ficar em casa era algo que já não fazia há imenso tempo. Felizmente, sempre tive muito trabalho, sempre toquei com muitas bandas. Apesar disso, desenvolvo um dito “trabalho normal”, das 9h às 18h, e o facto de ficar em casa permitiu-me ter três meses para pensar na música e no trabalho de uma forma mais relaxada. Cheguei à conclusão que gostei, mas além disso, há uma série de condicionantes. Não pude tocar, afetou bastante as finanças e há casos, como os Clã, que lançaram um disco e não o podem apresentar. Provavelmente foi bom para as pessoas pensarem no que andam a fazer, e a maneira como tratam os outros.
ComUM: Dia 26 de Agosto, vais estar presente no “Que Jazz é este?”. O que consideras especial neste festival, que este ano comemora a oitava edição?
Krake: Nunca fui. Conheço algumas pessoas que organizam, e já ouvi falar bastante bem do festival, e este ano vou ter a felicidade de lá tocar. Algo que me agrada na organização é a abertura de fronteiras além do jazz clássico, e isso é fundamental nos dias que correm, para mostrar ao público que todos os estilos têm lugar no palco.
ComUM: O que podemos esperar do teu concerto no festival?
Krake: Acima de tudo, a sonoridade que eu pratico será a tal que eu referi, meio pós-apocalíptica e sombria. Em relação ao que vou tocar, vou aproveitar para experimentar algo novo no meu primeiro concerto pós-confinamento.
ComUM: O que podemos esperar do futuro dos teus projetos?
Krake: Tenho bastantes espetáculos marcados, quer a solo, quer com o Adolfo Luxúria Canibal. Como músico dos Clã, tenho estado a apresentar o novo disco Véspera e, estou, com os DearTelephone, a tentar criar um disco novo. Finalmente, com os Peixe:Avião, estamos a tentar perceber o futuro da banda.